A primeira vez
que a Morte passou pela minha vida,
caíram-me por terra
a coroa do império, o cetro do orgulho,
o castelo da vaidade.
E fui ficando mais leve
do enorme peso da vida.
A segunda vez
que a lâmina da Morte passou pela minha vida,
cortou-me os braços
e todo o apego fugiu-me por entre o dedos.
E fui ficando mais livre
do enorme peso de existir.
A terceira vez
que a lâmina da Morte passou pela minha vida,
cortou-me as pernas
e aprendi a caminhar com os próprios passos.
E fui ficando mais livre
do eterno peso de existir.
A quarta vez
que a lâmina da Morte passou pela minha vida,
rasgou-me o horizonte do coração
e todas as estrelas do futuro
caíram-me aos pés.
E fui ficando mais solto
do pesado fardo de ser.
A enésima vez
que a Morte passou pela minha vida,
já estava podado
de quase todos os excessos do ego.
Separado o espesso do sutil,
reduzido à essência do ser.
E fui ficando mais leve
do aéreo peso da vida.
A última vez
que a Morte passou pela minha vida,
decepou-me o pescoço e a esperança.
Minha cabeça rolou pelos campos de toda memória.
Estava livre de todo o excesso da matéria
e comecei a viver.
AUTO DO RETRATO
Este corpo não é meu.
Visto-o como emprestado,
a algum nobre antepassado,
que dentro em mim se escondeu.
Esta alma não é minha.
Habita apenas o eterno
inútil espaço de um terno,
que com o corpo caminha.
Não é minha a cicatriz
que desenharam nos ombros.
Nem esses olhos de escombros.
Tampouco o queixo e o nariz.
De mim, apenas, o gesto,
o olhar, o passo, a ironia,
a fútil genealogia
de tudo que sobra e é resto.
Luis Augusto Cassas - é um poeta maranhense
siga no Twitter o blog Dom Severino ( severino-neto.blogspot.com) @domseverino e Portalaz
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