quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Os novos coronéis de MG querem calar educadores

por Beatriz Cerqueira*, via e-mail

Minas Gerais é realmente um estado de exceções. Por aqui, os poderes da República, que deveriam zelar pelos interesses públicos, zelam pelos interesses do grupo político que comanda o Estado.

São poucos os promotores de justiça que atuam com autonomia e defendem os interesses da população. O Tribunal de Contas do Estado firmou acordo para que o Governo tivesse um “prazo” para cumprir a Constituição Federal e investir o mínimo de 25% de impostos em educação. Lembrando que a Constituição é de 1988 e o acordo foi firmado em 2012.

A Assembleia Legislativa, por diversas vezes, abriu mão da sua prerrogativa de legislar e, a cada início de mandato, outorga ao Governador o direito de fazer leis, através das leis delegadas. O escândalo do helicóptero de um deputado estadual e a entrega do Mineirão à iniciativa privada foram ignorados pela Casa.

O grande investimento de recursos públicos em campanhas publicitárias e a mão de ferro que acompanha o cotidiano das redações impedem que a imprensa mineira divulgue os problemas que o Estado enfrenta, como também impediu, nos últimos 12 anos, que qualquer crítica à gestão do choque de gestão fosse feita. O aeroporto em Cláudio existe há muito tempo, mas somente em 2014 a situação se tornou pública.

E mesmo o Brasil sabendo o que acontece por aqui, o atual grupo político que comanda o Estado insiste na política da mordaça. Há anos o Sind-UTE/ MG, Sindicato que representa os trabalhadores em educação da rede estadual, utiliza mídia paga para dialogar com a comunidade escolar.

A estratégia é necessária em função do comprometimento da maioria dos donos dos meios de comunicação com o governo, que não veiculam críticas ao Executivo Estadual. E a exemplo do que fizemos em 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013, elaboramos este ano, peças para fazer este diálogo.
Por sua vez, a estratégia do Governo do Estado e do seu candidato à sucessão, foi tentar transformar o debate por uma educação pública, que é o que o Sindicato faz, numa agenda eleitoral, nos acusando de propaganda eleitoral negativa.

Até o início de setembro foram nove representações contra a entidade. E, para a vergonha dos mineiros, o Tribunal Regional Eleitoral, adotou a tese, concordando com a tentativa de calar a categoria durante as eleições.

Como é possível que, no período eleitoral, não se possa questionar, criticar, dizer sobre as condições da escola pública?

Querem nos colocar num lugar de invisibilidade, anulando o nosso papel de dizer as reais condições em que se encontram as escolas e seus profissionais. Como fica o debate democrático, se a população é impedida de conhecer a realidade?

É isso que o Tribunal Regional Eleitoral quer impor aos educadores mineiros: que fiquemos calados, que não critiquemos, que não demos a nossa opinião. Com essa prática prevalece a velha política do coronelismo: política é coisa para os profissionais, não para o trabalhador.

Como um candidato que não consegue lidar com a crítica, com o pensamento divergente, quer ser governador?

No século XXI é impossível o pensamento hegemônico, o monopólio da fala e das ideias, não cabe mais o monólogo, o controle do pensamento.

Isso foi enterrado quando Hitler perdeu a 2ª Guerra Mundial. Não podemos permitir o surgimento de novos tiranos! Por tudo isso e por uma educação de qualidade persistimos! com viomundo

*Beatriz da Silva Cerqueira, professora, coordenadora-geral do Sind-UTE/MG

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