quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O roubo dos personagens

Erasmo Dias, um grande jornalista e talentoso intelectual da minha juventude, que deixou uma marca indelével do seu talento e da sua personalidade, que rompia todos os cânones da época, escreveu na revista A Ilha, fundada por Tribuzi, Bello Parga e eu, um conto antológico, “O roubo dos personagens”.

Lembro-me dele quando vejo que muitos dos meus pensamentos, frases e iniciativas foram apropriados, sem o menor respeito, e nunca citaram a fonte. Não vou dizer que roubaram, mas se apropriaram.
O primeiro – e que motivou este artigo – é dizer que um programa é de “desenvolvimento com justiça social”. Quem primeiro falou is​t​o no Brasil fui eu, no manifesto da Bossa Nova da UDN, ao tempo de Juscelino, que falava muito em desenvolvimento, mas nada em social. No Maranhão, em 1965, quando fui eleito, era esse o lema do governo. E como presidente da República adotei o slogan “TUDO PELO SOCIAL”.
Minha preocupação pelo social é uma coerência da vida inteira. Ao convocar a Constituinte, coloquei na Mensagem que a encaminhou que ela se destinava a assegurar “os direitos sociais”, até então esquecidos.
Congressista, coloquei pela primeira vez em debate em Brasília a necessidade de quotas para minorias negras, com projeto de minha autoria para entrada nas universidades e concursos públicos. Aprovaram as cotas e ninguém se refere a isto. Lutei 20 anos com numerosos projetos de incentivos à cultura e hoje tudo o que se faz decorre da lei de minha autoria e sancionada por mim. Tinha meu nome e o trocaram por Rouanet, para negar-me crédito.
Presidente da República, criei o vale-alimentação (hoje chamado auxílio-alimentação), este que você e até mesmo os funcionários públicos recebem. Criei o vale-transporte, este com que você, que viaja de ônibus, paga sua passagem. Fiz a impenhorabilidade da casa própria, isto é, a lei que assegura que você não pode mais ter sua casa penhorada por dívida, pois é bem de família, seu teto, que não pode ser tomado. Assim, também facilitei os instrumentos do seu ganha-pão, o automóvel do taxista (dispensei também o IPI na sua compra), a máquina da costureira, o computador do que trabalha com ele, enfim, tudo do seu sustento.
Todos os programas sociais de hoje, que discutem se foi FHC ou Lula, começaram comigo: farmácia básica, aposentadoria do trabalhador rural, cota a deficiente, extensão dos benefícios da previdência ao trabalhador do campo, o ​décimo terceiro​ salário para o funcionalismo público civil e militar, e o maior de todos, a UNIVERSALIZAÇÃO DA SAÚDE. Todos os brasileiros, inclusive os que até então não tinham onde tomar uma injeção e só encontravam amparo nas Santas Casas e associações de caridade, passaram a ter direito ao tratamento de saúde com a criação do SUS por mim – antes da Constituição, que só mudou o nome para SUS. Quem se lembra disso e agradece, quando recebe esses benefícios?
A correção do salário mínimo acima da inflação, a legalização dos partidos tidos como clandestinos, inclusive do PCdoB, a anistia aos líderes sindicais, inclusive Lula, e a liberdade sindical, possibilitando milhares de novos sindicatos.
O programa do leite, considerado pela Unesco o melhor combate à fome do mundo – quantas vezes encontro mulheres que me agradecem e dizem que seus filhos foram criados graças a ele. ​E ​113 mil bolsas científicas. Acesso à energia no interior, que FHC e Lula prosseguiram e hoje é o Luz para Todos. O SEGURO-DESEMPREGO, que o trabalhador recebe no período mais difícil para ele, que é quando perde o emprego.
Daria para escrever um jornal inteiro se eu fosse relatar tudo. Mas não posso encerrar sem lembrar o que mais me orgulha e enche de satisfação, porque diz respeito à humanidade inteira: foi criar – assim que em Vancouver os cientistas anunciaram sua descoberta – a distribuição gratuita do coquetel que detinha a Aids, considerado o melhor programa do mundo contra essa terrível epidemia, e que o Brasil exporta para outros países.
O que fiz está aí. Ajudar, ajudar e ajudar o estado e o povo. Basta refletir sobre essas medidas que tomei.
Artigo publicado na edição de 14 de dezembro do jornal O Estado do Maranhão

“É inveja o que os adversários do político José Sarney sentem - de um político que é considerado o Pelé da política nacional, por aqueles que o admiram. No fundo, todos os detratores de José Sarney gostariam de ser 10% do que esse maranhense foi”. (Dom Severino)

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