A chuva
no meu sertão
Se vê pelas estradas
Os campos verdejantes,
As veredas embrejadas,
Não é mais como era antes
Parece que a Natureza
Esmerou toda beleza
De forma exuberante,
Enquanto a chuva cai diversa
O Sertão se recupera
De uma seca cruciante.
Xiquexique e jacurutu
Que antes não tinha botão
Xixá e mandacaru
Estão cheios de babão,
Na mesinha da paioça
Do agricultor da roca
Tem pamonha e requeijão
Além do leite de gado
Meu Deus muito obrigado
Pela chuva no Sertão.
Fedegoso e muçambê
Hortiga e cansansão
Só quem entra é o saruê
Que é bicho de opinião,
Jurema e unha de gato
Reformando o retrado
Da caatinga do sertão
Dificultando o vaqueiro
Enfrentar esse balceiro
Atrás de um barbatão.
O jumento se mostrando
Com seus dotes naturais
Como quem está pensando
Naquilo que não fez mais,
A caatinga que tava preta
Se encheu de borboleta
Enfeitando os matagais,
Vou dizer mais uma vez
As coisas que Deus fez
O homem morre e não faz.
Caranguejo, cobra e sapo
Já se vê pra todo lado
Cururu inchou o papo
De cantar empapusado,
A noite não fez pausa
Meu Deus por esta causa
Me deu pena do coitado,
Comeu tanta saúva,
Pra depois cantar na chuva
E morreu empanzinado.
Quando olho a Natureza
Me dá mais inspiração
Sua infinita grandeza
Comove meu coração,
As águas do riacho
Que desce morro a baixo
Desbravando este rincão,
É com razão que me expresso
Transformando tudo em verso
As coisas do meu Sertão.
Quando pousa de mansinha
É bonito a gente ver
Logo de manhanzinha
Que a barra se romper,
A neve cai no chão
E um bando de arribação
Começam aparecer
A procura de babujos
E pequenos caramujos
Pra cortar e comer.
Esta grande riqueza
Que Deus nos oferece
Divindade da Natureza
Que muitos não agradece,
Quando o ronco do trovão
Ecoa pelo sertão
Logo assim que anoitece
Ao Senhor São José
Meu Santo de muita fé
A ele faço uma prece.
Acho que Santo Antônio
Se tornou meu grande amigo
Pois até meu matrimônio
Está fora do perigo,
O gado ganhou a caatinga
E a mulher que tanto xinga
Nunca mais brigou comigo
Enquanto a chuva cai no chão
Nós se enrola num colchão
E o resto eu não digo.
Mel de abelha branca
Munduri e inchu
Coisa mimosa e franca
É a cebola de tatu,
Não há mais carnificina
Nem aves de Rapina
Carcará, nem urubu,
É só fartura no Sertão
Tem milho verde e feijão
Toucinho de porco e tutu.
Mel de abelha tubi
Umbu e melão
Mandasaia e jatoí,
Cupira no chapadão,
Fartura de umbuzada
Riquezas da invernada
Que neste caro torrão
Enriquece qualquer família
Meu Deus que maravilha
A chuva no meu sertão.
JUCIVALDO DIAS é um poeta piauiense, nascido em São Raimundo Nonato
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