sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A poesia segundo Miguezim de Princesa

Tacho e Quengo Raspados
I
Enricar do dia pra noite,
Que coisa sensacional!
Quando Eike apareceu
Foi o maior carnaval:
Mas que homem inteligente
Em duplicar capital!
II
Eu ficava matutando:
Tanto tenho trabalhado,
Da roça pras redações,
Na lida de delegado,
Pago minhas contas a pulso
E vivo muito apertado.
III
Como disse em cantoria
O meu amigo Vital:
Comer casca e guardar ovo
É uma coisa natural
Diante da carestia
E ilusão do Pré-Sal.
IV
Eu confesso que já estava
Ficando complexado:
Como é que eu trabalho tanto
E continuo lascado
E o tal do Eike Batista
Vive tão endinheirado?
V
Imaginei ser burrice
Ou mesmo acomodação,
Porque funcionário público
Vive contando tostão,
Porém o Eike se arrisca
Correndo atrás de bilhão!
VI
Que sujeito despachado,
Grande empreendedor!
Viva a classe produtiva,
Que vive a todo vapor,
Juntando dinheiro a rodo
Aqui e no exterior!
VII
Foi quando a máscara caiu:
Essa farra de bilhão,
O exemplo do sucesso,
O milagre da Nação
Era um segredo escondido
Na caverna do ladrão.
VIII
Da esquerda e da direita,
Na farra verde e amarela,
Afanando a Petrobras,
Não restou nem a pinguela,
O povo levando fumo,
Eles comendo em gamela.
IX
Quebraram o Rio de Janeiro,
Não ficou nenhum trocado;
Com um pano na cabeça,
Cabral não se fez rogado,
Hoje almoça em Bangu
E se diz injustiçado.
X
Eike hoje apareceu
Careca, sem a peruca;
Do Brasil raspou o tacho,
Meteu-nos nessa arapuca,
Ladrão de quengo raspado
É bom que esfria a cuca!

Publicado originalmente no site Recanto das Letras.

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