quinta-feira, 18 de maio de 2017

A poesia segundo Dulce Maria Loyna y Muñoz



Fui te despindo

Fui despindo você de você mesmo,
de seus "vocês" superpostos que a vida
te cingiu ...

Te arranquei a casca - inteira e dura –
que parecia fruta, que tinha
a forma da fruta.

E diante do vago assombro de seus olhos
surgiu você com olhos ainda velados
de sombras e assombros ...

Surgiu você de você mesmo, da mesma
sombra fecunda - intacto e desgarrado
em alma viva ...

 XXXVI

Hei de amoldar-me a ti como o rio a seu leito,
como o mar a sua praia, como a espada a sua bainha.

Hei de correr em ti, hei de cantar em ti, hei de guardar-me em ti
de agora em diante.

Fora de ti há de me sobrar o mundo, como ao rio sobra
o ar, ao mar a terra, à espada a mesa do convite.

Dentro de ti não há de me faltar brancura do limo
para minha corrente, perfil de vento para minhas ondas, ajuste e
repouso para meu aço.

Dentro de ti está tudo; fora de ti não há nada.

Tudo o que tu és está em seu lugar, tudo o que não sejas tu me
há de ser vão.

Caibo em ti, estou feita a tua medida; mas se for em mim onde
algo falte, cresço ... Se for em mim onde algo sobre,
corto.

Dulce Maria Loyna y Muñoz foi uma poetisa cubana, nascida em Havana.

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