Na década de 80 eu morei em Lídice, 2º distrito do município de
Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. Um município muito conhecido
nacionalmente por ser a terra do poeta romântico Fagundes Varela.
Lá em Lídice em tive a oportunidade de conhecer uma família
mineira que era liderada por uma verdadeira matriarca e que atendia pelo nome
de Guilhermina, digo atendia, porque já passado mais de 30 anos é pouco
provável que essa senhora ainda viva. Já naquela época ela tinha mais de 60
anos.
O meu contato com essa família logo no início me deixou as
melhores das impressões e se deu através da Igreja Católica, mais precisamente,
através da Ação Católica Operária (ACO), pois tanto os membros dessa família
mineira assim como eu, fazíamos parte desse importante movimento controlado
pela hierarquia dessa igreja.
Hoje já passada várias décadas de um convívio prazeroso,
harmonioso e gratificante com a família de Guilhermina, posso assegurar que ao
lado dessa família eu vivi os melhores dias da minha vida, porque nós todos
vivíamos um ideal, algo que nós acreditávamos piamente ser um movimento
político transformador e libertador. Um movimento que contribuiu muito para à
construção de um partido nascido da classe operária e que levaria essa mesma
classe ao paraíso.
Ao lado de Guilhermina e outros companheiros como José Teixeira
(genro de Guilhermina) e Gonçalo, um negro que parecia ter saído de um dos
livros da trilogia Subterrâneos da Liberdade (Ásperos tempos, Agonia da Noite e
a Luz no Túnel). Gonçalo um homem despreendido, desapegado, solidário e
fraterno. Um homem que vivia na prática tudo que aprendia na teoria.
Hoje, olhando em retrospectiva, concluo que dias melhores eu já
vivi. Dias que em que pese a falta de liberdade, a lei do silêncio e um projeto
de governo alienante, uma parcela considerável do povo brasileiro acreditava na
construção de uma sociedade livre, justa e fraterna - e lutava por isso. Tudo
isso graças a ACO, ACU, os sindicatos, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs),
a Central Única das Favelas (CUFA), as associações e uniões de moradores.
No ano de 1982, de repente eu me vi descendo de um avião na
distante Porto Velho, capital do recém criado estado de Rondônia. Foi tudo tão
de repente que eu nem me despedi de Guilhermina, José Teixeira e Gonçalo. Hoje
quando eu paro para pensar nesses amigos que eu deixei para trás e que nem me
despedi deles quando da minha partida, eu sofro muito por saber que o tempo não
volta e que eu nada posso fazer para reparar essa minha atitude reprovável e
lamentável.
Com esses meus companheiros de luta eu aprendi a ser solidário e a
viver compartilhando. Na realidade eu não me despedi dos meus companheiros.
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