Maré Memória
I
Olhe aí a palafita
crescendo sobre a maré.
O homem que nela habita
caranguejo ou peixe é.
crescendo sobre a maré.
O homem que nela habita
caranguejo ou peixe é.
Caranguejo que se irmana
com os bichos dos lamaçais,
na condição desumana
de caminhar para trás,
com os bichos dos lamaçais,
na condição desumana
de caminhar para trás,
de voltar à pré-história,
– vergonhosa marcha à ré –
e afogar sua memória
no ir e vir da maré.
– vergonhosa marcha à ré –
e afogar sua memória
no ir e vir da maré.
Peixe caído na rede
que a vida lançou ao mangue,
para matar fome e sede
de um mundo nutrido em sangue.
que a vida lançou ao mangue,
para matar fome e sede
de um mundo nutrido em sangue.
Caranguejo ou peixe, o fato
é que o homem posto na lama
não sabe o seu nome exato
e também ninguém o chama,
é que o homem posto na lama
não sabe o seu nome exato
e também ninguém o chama,
nem o batiza de novo
com esse sal de maré.
Não se sabe de que povo
nem de que raça ele é,
com esse sal de maré.
Não se sabe de que povo
nem de que raça ele é,
ali entre vida e morte,
caranguejo ou peixe ou nada
do que seja fraco ou forte
na maré, sua enteada,
caranguejo ou peixe ou nada
do que seja fraco ou forte
na maré, sua enteada,
mãe segunda que o cativa,
que como filho o adota,
para a solidão nativa
mar sem porto e sem rota.
que como filho o adota,
para a solidão nativa
mar sem porto e sem rota.
O poeta José
Chagas nasceu no município de Piancó no estado da Paraíba, mas viveu a
maior parte da sua vida no estado do Maranhão. Costuma-se dizer em São Luís que
José Chagas foi um poeta paraibano, mas com inspiração maranhense. Toda sua vasta
obra está diretamente ligada as coisas do Maranhão. Nascer é um ato meramente circunstancial.
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