No próximo ano, a cidade São Luís do Maranhão completará 400 anos de existência. Por acaso, mexendo na biblioteca da minha filha, descobri o livro Cantiga de Viver, organizado por João Kennedy Eugênio e Halan Silva, onde constam alguns poemas de H. Dobal feitos para a cidade de São Luís, extraídos do livro Cidade substituída. Mas o que mais me chamou a atenção nesse livro, no primeiro momento foi a critica de Wanderson Lima, sobre A Cidade Substituída, que segundo esse crítico literário é a reconstrução poético-memorialística da cidade de São Luís.
“A “Canção do exílio”, do maranhense Gonçalves Dias, transforma-se, com a releitura de H. Dobal, em elegia, canto de lamentação: o sabiá gonçalviano, um dos mais fortes símbolos do nacionalismo criados por nossa literatura, transmuda-se num sabiá solitário, apartado do povo, “indiferente ao movimento da vida”; no poeta maranhense, o sabiá canta numa palmeira: vive em harmonia com natureza e bem pode simbolizar a relação do poeta (sabiá) como o seu chão (país). O narrador gonçalviano pôde cantar, com feliz ingenuidade, os poderes da poesia e a comunhão com a pátria: o Brasil, à época do romantismo, precisava de mitos gestados pela mente prodigiosa de seus escritores, que alimentassem amor pátrio e nos singularizassem enquanto nação. No contexto em que se insere o narrador dobalino, a situação é bem outra: o sabiá, desnaturalizado, deslocado, vive na prisão da gaiola e seu canto triste, como a elegia do poeta, parece não atingir ninguém: canto inútil porque protesto contra uma perda da memória coletiva que parece não fazer falta. Interessante notar, n poema dobalino, a ausência de pessoas; citam-se igrejas, sobrados, ônibus – elementos que naturalmente pressupõem a presença de seres humanos - , mas não se apresentam pessoas propriamente, o que reforça ainda mas a solidão do sabiá – poeta” (Wanderson Lima).
Elegia de São Luís
Indiferente ao movimento da vida,
Um canto de sabiá
Se despeja triste
Sobe São Luís do Maranhão.
Canto, pranto, lamentação de sabiá
atravessando o dia e a noite,
atravessando o céu e a terra.
A passagem da lua,
A passagem das velas nos canais
Que a maré transforma e retransforma,
A solidão das igrejas,
A ameaçada solidez destes sobrados,
Nada ode vencer
A tristeza deste canto.
Este canto não vem
De uma palavra invisível.
Vem da gaiola acima da escada
E corta a sala, o jardim, atinge a rua
Onde os ônibus soluçam.
Mais ainda: atinge tudo isso
Que esta sendo chamado a desaparecer.
Por oportuno resolvi reproduzir esse belo e triste poema, escrito por um estrangeiro que certamente se encantou por São Luís e também essa critica brilhante, como uma homenagem a uma cidade que recebe a todos com um carinho e uma atenção muito especial. Mais especial ainda, aos piauienses que são tratados em terras “gonçalvianas” como irmãos.
O poeta piauiense H. Dobal é considerado um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos. Nós os maranhenses, sensibilizados e honrados, agradecemos a preocupação desse poeta singular com o futuro da bela e encantadora São Luís do Maranhão.
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