Em
livro, Marco Antonio Villa avalia era petista no Planalto como tempo de
improvisação, atraso e ocupação de poder
GABRIEL MANZANO – O Estado de S.Paulo
O décimo aniversário
do PT no poder, que o partido festejou junto com seus 30 anos de vida, começou
nos sindicatos, passou por palanques e acabou nas livrarias. Década Perdida –
Dez anos de PT no Poder, que o historiador Marco Antonio Villa lança na segunda-feira,
é uma dessas “comemorações”, mas fora do programa oficial. Como já avisa o
título, trata-se de uma crítica pesada aos oito anos de Luiz Inácio Lula da
Silva no Planalto, mais os dois primeiros de sua sucessora, Dilma Rousseff.
Adversário antigo do
petismo e das esquerdas em geral, Villa não se dedica a um balanço consolidado
de grandes temas – saúde, educação, economia, programas sociais. Preferiu criar
uma linha do tempo e ir contando, ano por ano, uma história que, ao final das
280 páginas, reprova praticamente tudo no governo . Do Fome Zero ao Trem Bala,
das virtudes éticas às alianças com as velhas elites, da “improvisação na
economia” ao “desmanche da indústria”, ele chega, enfim, à constatação-título:
“Foi uma década perdida para o País. Perdemos um momento único na história
recente do capitalismo”.
O olhar do autor se
dirige mais para atitudes, estilos, o modus operandi. E o que ele vê, no dia a
dia da era petista, é a improvisação como método, o desperdício como rotina,
muita propaganda, personalismo do chefe e permanente confusão entre Estado,
governo e partido.
Já no começo ele
ironiza a decisão de Lula de suspender o gasto de US$ 700 milhões com a compra
de caças franceses, para usar o dinheiro no Fome Zero. Era um dinheiro que não
existia, diz ele: aqueles milhões seriam linhas de crédito fornecidas pelos
fabricantes do avião. A alfinetada dá o tom do que virá: as portas se abrindo
aos velhos caciques antes tão criticados, as entranhas do mensalão, PT
enfraquecido e ascensão do lulismo, a “marolinha’ da crise de 2008 que custou
ao Tesouro R$ 282 bilhões, o discurso otimista na economia enquanto o País
vivia “o mais longo ciclo de baixo crescimento desde o real”.
Por trás de tudo,
apenas um projeto de poder, diz o historiador: Lula “infantilizou a política e
privatizou o Estado”. Eliminou o debate de ideias, mesmo no PT, ao reduzir tudo
a disputas pessoais. E ganhava todas, porque o País “vivia, naquele momento,
enfeitiçado pelo seu carisma”. Mas como explicar, entre tantos erros, os altos
índices de aprovação popular? Villa os atribui à “eficiente propaganda
governamental, ao desinteresse popular pela política e à inexistência de uma
eficaz ação oposicionista”.
Quanto a esta, Villa
não perde a chance de alfinetá-la, achando-a temerosa, acomodada e, em grande
parte, culpada, também, por este Brasil-2013. Que ele define como “uma
sociedade invertebrada, amorfa, sem capacidade de reação”. Fonte: blog do Villa
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