Osmarino Amâncio é uma liderança histórica
dos seringueiros. De sua modesta casa na reserva extrativista Chico Mendes, em
Brasileia (AC), ele conversou com a redação do Portal do PSTU
por Jeferson Chona, sugerido pelo leitor Snowden nos comentários, do site do PTU
Conheci a
Marina nas Comunidades Eclesiásticas de Base. Ela trabalhou como catequista, eu
também comecei como catequista e nós trabalhamos juntos. As comunidades eram
ligadas à Teologia da Libertação. Depois, ela se candidatou, foi eleita
deputada eu fiquei de suplente. Mas aí, em 1993, eu saí do PT por divergir do
programa do partido, porque estava vendendo todos os seus princípios. Na época,
o PT expulsou algumas tendências como a Convergência Socialista. Eu saí do PT
em solidariedade à expulsão destes companheiros.
A Marina
fez parte dos empates [mobilizações de seringueiros contra o desmatamento da
floresta]. No começo teve uma trajetória boa, mas depois se adaptou à
legalidade burguesa, indo ocupar uma cadeira de deputada e, depois, de senadora
e ministra. Então, fez a grande traição do movimento dos seringueiros.
O que
você pensa sobre a candidatura de Marina Silva à presidência da República?
Eu acho
que é um retrocesso total tanto pra questão campesina como pra questão da
Amazônia. Ela nunca teve uma preocupação com a questão da educação. Ela foi
senadora e nunca teve essa preocupação de fortalecer esse setor.
Na
Amazônia, ela fez toda a logística para que o agronegócio e para que as
multinacionais pudessem dizimar com todo esse potencial aqui da região.
Acho que
estamos numa situação em que os candidatos que tão na frente [das pesquisas]
não se diferenciam muito. A Dilma não propõe a reforma agrária, o PSDB e a
Marina também não. Na questão ambiental, os três têm a mesma agenda que é a
economia verde. Como eles vão sustentar isso? Propondo uma esmola pra classe
trabalhadora. Vão propor o Bolsa Família. Aqui na Amazônia vão propor a Bolsa
Verde, o Bolsa Floresta. Então, vão distribuir esmola e os bancos vão ser os
grandes beneficiários pela política propostas por esses candidatos.
Esse
pessoal não governa o Brasil. Eles obedecem a uma política econômica do grande
empresariado deste país. A Marina sequer tem uma ideologia. A Marina se
apresenta como sendo alguém que não é nem de esquerda, nem de direita. Ela não
cumpriu com o seu compromisso quando foi ministra. Ela privatizou a Amazônia
com a Lei de Concessão de Florestas Públicas, garantiu que o agronegócio se
fortalecesse com a liberação dos transgênicos, não teve uma política dura
contra a importação dos pneus usados da Europa e da China.
O que
você acha da proposta de Marina a respeito do desenvolvimento sustentável pra
Amazônia?
Isso aí é
a mercantilização total dos recursos naturais que ela quer implementar aqui.
Hoje aqui tudo virou mercado. Hoje se propõe vender toda a madeira como
matéria-prima. Tem a proposta do mercado de carbono, que garante aos
empresários de Las Vegas poluir lá e “compensar” aqui na Amazônia. Isso é a
proposta da economia verde. Sustentável para as multinacionais e para o grande
capital.
Isso
afeta os seringueiros e os indígenas aqui. A proposta dessa economia verde vai
querer expulsar essas populações de suas áreas. Eles não vão poder nem colocar
o seu roçado. A Lei de Florestas Públicas vai entregar pra iniciativa privada a
sua área de floresta.
O que
você acha da escolha de um vice ligado ao agronegócio na chapa de Marina Silva?
Já era
algo esperado. A Marina não tem uma proposta de reforma agrária, nunca teve
essa preocupação. Com a escolha desse vice [Beto Albuquerque] ela combina a
imagem de lutadora que teve no passado com esse setor que sempre foi o grande
inimigo daqueles que defendem a reforma agrária e lutam contra a concentração
da terra. Os seringueiros e os índios vão sofrer as consequências disso na
Amazônia.
Marina sempre
usou a história de Chico Mendes em sua trajetória política. O que você acha
disso?
Esse
pessoal tenta dizer que o Chico era um ambientalista. O Chico nunca foi um
ambientalista. Ele foi um libertário, um sindicalista socialista. O que o Chico
discutiu com os ambientalistas foi uma aliança em alguns pontos. Mas a reforma
agrária adequada pra essa região foi a proposta que o Chico defendeu. Pouco
ante de morrer ele já tava divergindo da Marina por conta da proposta
apresentada no congresso do Conselho Nacional de Seringueiro, do uso múltiplo
da floresta. Isso era fazer o seringueiro aceitar o corte de madeira
[comercial] aqui nas Reservas Extrativistas. Hoje o Chico estaria totalmente
contra essas políticas que tão sendo implementadas.
Porque
você está apoiando a candidatura de Zé Maria?
Eu tô
apoiando porque é o único candidato que tá propondo a reforma agrária, a
estatização da Amazônia. Tá ligado à luta de classe, ao movimento sindical da
CSP-Conlutas. É um cara que tem um passado de luta que nunca foi negado por
ele. Continua hoje com as mesmas convicções, como lutar contra a concentração
de terras nas mãos de poucas pessoas.
O Lula
que foi a esperança da classe trabalhadora sai de lá dizendo que os usineiros
são heróis. Mas ainda tem muita gente que ainda luta como Chico Mendes fazia.
Eu tenho certeza que essa população que se mobilizou em junho vai ter
consciência disso. com Viomundo
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