terça-feira, 9 de julho de 2019

A poesia segundo Luís Augusto Cassas

Relatos da fumaça do incenso

1

sou feito
de ausência
e distância
filho
de penúria
e abundância
a encarnação
mais pura do mito
a emanação
do cintilar da presença
o amor

2
agita o vento
um pensamento
em minha cabeça
aves retornam
ao ninho das ideias
sopra o verde
nos galhos do coração
ajoelho-me em perdão
à natureza
pela destruição
c/ pássaros na mão
Francisco de Assis
reinaugura o verão

3
a palavra sagrada
jorrava nos templos
e derramava
o arco-íris
das bem-aventuranças
mas os templos
cansaram
de louvar a criação
e a palavra sagrada
lançou-se do púlpito
a bolsa de valores
do espírito
abriu ao povo
as moedas e dons
das transfigurações
então o coração
tornou-se o santuário
Jakin e Bohaz
as hastes do corpo
os pilares
(Deus
havia entrado
na Era de Aquário)

4
a cada dia
Deus
me liberta
dos véus
dos seus
diversos eus
— dos mensageiros
profetas
e anacoretas —
até desvelar-se
de espírito inteiro
em meu céu

5
vai luz
segue pela sombra
acrescenta
o que me falta
diminui
o que me excede
até encontrar
na fonte que me bebe
a rosa
que perfuma e inflama
o pássaro
que morre
e me levanta
 
LUIS  AUGUSTO  CASSAS é maranhense, nascido em  São Luís do Maranhão. Atualmente reside em São Paulo. Autor de 22 livros de poemas, dentre eles “ Bhagavad-Brita (A Canção do Beco)”, “ Em Nome do Filho( Advento de Aquário)” e “ A Pequena Voz Interior & Outros Comícios do Vento.”

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