O senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), integrantes da CPI do Cachoeira, avistaram-se com o presidente licenciado da Delta Construções, Fernando Cavendish, num restaurante de Paris. Deu-se em abril, durante a Semana Santa.
Nesta quinta (14), votou-se na CPI o pedido de convocação de Cavendish. Foi rejeitado. Placar apertado: 16 a 13. O senador Ciro votou contra o depoimento. O deputado Maurício ausentou-se da sessão. Quer dizer: o comportamento de ambos influiu no resultado.
O encontro do sócio majoritário da Delta com congressistas fora veiculado em 31 de maio no blog do deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). Sem citar nomes, ele anotara: “Alguns deputados federais e pelo menos um senador almoçaram com Fernando Cavendish na Semana Santa, em Paris. Alguns inclusive são Membros da CPI do Cachoeira-Delta” (veja a reprodução abaixo).
Inconformado com o desinteresse da CPI em ouvir
Cavendish, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) foi ao microfone. Insinuou a
presença na comissão de uma “tropa do cheque para defender o Cavendish”.
Abespinhado, Cândido Vaccarezza (PT-SP) levantou-se da cadeira. Dirigindo-se a
Miro, declarou:
“Não assaque acusações genéricas. Se Vossa Excelência acha que
tem um deputado que é da bancada do cheque, vire pro deputado e diga: é fulano.
Eu não sou da bancada do cheque. Não sou!” (assista no vídeo lá do alto).
Miro não se deu por achado. Conversara com Garotinho. Pedira os
nomes que o colega sonegara na nota que havia pendurado em seu blog. Garotinho
não informou. Mas assegurou que o encontro de Paris ocorrera.
Dando-lhe crédito, Miro encaminhou à direção da CPI um
requerimento. Quer saber quais parlamentares almoçaram com Cavendish e se o
voto deles influiu no resultado da votação desta quinta. Citou uma missão
oficial à África.
De fato, a missão ocorreu. Sete congressistas voaram para
Kampala, na Uganda, para representar o Parlamento brasileiro na 126ª Assembléia
Geral da União Interparlamentar. A viagem foi custeada pelo erário. O encontro
aconteceu entre os dias 30 de março e 5 de abril.
Além de Ciro Nogueira e Maurício Quintella Lessa, integraram a
comitiva Hugo Napoleão (PSD-PI), Átila Lins (PSD-AM), Alexandre Santos
(PMDB-RJ), Iracema Portela (PP-PI) e Eduardo Fonte (PP-PE). No vôo de volta,
aproveitando-se do sacrossanto recesso da Semana Santa, alguns parlamentares
fizeram escala em Paris.
Foi nessa passagem pela capital francesa que Ciro e Maurício
avistaram-se com Cavendish. Acompanhou-os Eduardo Fonte, que não é membro da
CPI. Nessa época, já crepitava nas manchetes dos jornais o escândalo Cachoeira
e as ramificações da quadrilha com a empreiteira Delta.
Ouvido, Ciro Nogueira confirmou o
encontro parisiense. Tratou-o como coisa fortuita. “Conheço Cavendish, tenho
relação com ele há uns cinco anos. Mas nada que envolva doação de campanha. Nós
só o cumprimentamos. Foi um encontro totalmente casual.”
O nome do restaurante? O senador disse que não se recorda.
Lembra-se apenas do nome da rua: Avenue Montaigne. De resto, veio-lhe à memória
um detalhe prosaico: acompanhados das respectivas mulheres, os parlamentares
encontraram um Cavendish de namorada nova, “muito bonita.”
Na sessão em que a CPI refugou o pedido de convocação do presidente
licenciado da Delta, coube a Ciro fazer um dos discursos de “encaminhamento” da
votação. Se o encontro de Paris foi “casual”, a fala do senador foi
providencial.
Ciro Nogueira soou assim na CPI: “Será que o doutor Fernando
Cavendish vai chegar aqui e vai falar, vai entregar qualquer tipo? Não vai. Ou
nos preparamos para a argüição dessas pessoas, ou nós vamos ser desmoralizados,
como nós fomos ontem e anteontem [nas argüições dos governadores Marconi
Perillo, de Goiás, e Agnelo Queiroz, de Brasília]”.
Reza a Constituição que as CPIs têm poderes análogos aos do
Judiciário. Podem quebrar sigilos, intimar e interrogar pessoas. Em certas
situações, podem até dar voz de prisão a depoentes que faltarem com a verdade.
Levando-se a analogia a limites extremos, os membros de uma CPI
deveriam se abster de participar de decisões que envolvam “amigos”, como fazem
os magistrados nos casos em que se declaram impossibilitados de julgar.
Na melhor hipótese, Ciro Nogueira teria rendido homenagens ao
bom senso se houvesse privado a CPI do seu voto. Numa hipótese melhor ainda,
pouparia a comissão do risco da pantomima abstendo-se de participar de uma
investigação que tem na Delta do “amigo” Cavendish uma de suas ramificações
mais promissoras.
Além de não convocar Cavendish, a CPI derrubou o pedido de
oitiva de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit, o órgão que mais
brindou a Delta com contratos para execução de obras do PAC.
Pagot já disse e repetiu que tem o que dizer e deseja falar.
Porém, numa reunião em que até Andressa Mendonça, a mulher de Carlinhos
Cachoeira, foi convocada a
depor, a CPI informou, por 17 votos a 13, que não tem interesse em ouvir o
ex-mandachuva do Dnit.
Em articulação coordenada
por Miro, um grupo de congressistas insurretos tenta viabilizar o depoimento de
Pagot. Se der certo, ocorrerá em sessão informal e paralela. Algo inusitado,
que, confirmando-se, levará às manchetes a criação de uma espécie de ‘CPI do
B’. A autodesmoralização da CPI oficial já é evidente. Resta saber até que
ponto os congressistas estão dispostos a permitir que o melado escorra. do blog do Josias
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