quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A poesia segundo Fernando Abreu

Contemplo o tempo

contemplo o tempo
que já não me sobra
há dentro um templo
só de deuses mortos
de quanta fé fez-se
a ruína dessa obra?

acaso este deserto
que me encara
recebe de volta
outra miragem?

será que a sede
deste agreste
inundará de ventos
meus nordestes 

apagando 
meus rastros rostos
restos?

eu que já fui rês
pra toda corda
eu que já fui punhal 
pra todo cabra
eu que já fui pau
pra toda cobra

o que serei
após esse deslinde?

coisa livre de fim
areia aos montes
disseminando dunas
e baías

finíssima lâmina
a teus pés
se contemplas o mar
e sonhas dissolver-te
nessa esfera

súbito
grão de areia
ao vento
turva a cena 
e te desperta

prazer
de me afogar 
nesse dilúvio
subatômico
- lágrima irritada
que teu olho verte

Maranhense de São Luís, Fernando Abreu também é letrista de música popular, tendo entre seus parceiros, Chico César, e os maranhenses Chico Nô, Neto Peperi, Gerson da Conceição, Zeca Baleiro e Nosly. Os três últimos gravaram parcerias com o autor em seus discos, sendo as mais conhecidas,Alma Nova, Rock do Cachorro Doido e Guru da Galera, lançadas por Zeca Baleiro. Livros anteriores de poesia: Relatos do Escambau  (Exodus, 1998)  e O Umbigo do Mudo (Clara Editora, 2003).  Editou a revista de poemas Uns & Outros, com os integrantes do grupo Akademia dos Párias.

Nenhum comentário: