terça-feira, 29 de março de 2011

Feio, Eu!?

por Silvana Dualibe *

Experimente perguntar,  numa sala cheia de pessoas, quem se acha feio... Você ficará surpreso ao ver quão poucas pessoas se manifestarão. Aí, você olhará em volta e mais surpreso ainda ficará ao constatar a presença de inúmeros feios... Lembre-se: esse poderá ser um conceito seu, não deles.

Afinal, o que define uma pessoa feia ou bonita? Traços? Altura? Cabelos? Volume do corpo? Ou será algo mais subjetivo, como o comportamento, os gestos, a postura e a maneira de falar?

Os gregos inventaram os padrões numéricos para o corpo, que geraram as proporções, que geraram os modelos de beleza. Os romanos adotaram os mesmos padrões e nós, ocidentais de todas as eras e herdeiros do pensamento e da estética greco-romana, os absorvemos e eternizamos. É a beleza clássica, construída sobre conceitos matemáticos e assépticos.

Por outro lado, existe o anti clássico, teoricamente o oposto da beleza, mas que, de fato, representa uma visão peculiar e bastante pessoal da mesma e que deu margem ao surgimento de novas leituras do belo (que pode ser feio, para alguns) – as imagens “rudimentares” de Juan Miró e de Paul Klee, os aparentes desencaixes cubistas de Picasso, as formas distorcidas de Tarcila do Amaral, as gordas e opulentas figuras de Botero e por aí vai...

A feiúra pode ser relativa, ou será que é a beleza que depende de muitos outros fatores? A Mona Lisa, de Da Vinci, é uma imagem antiga, renascentista  da mulher bonita. O que acham os modernos? Talvez, a vejam rechonchuda demais ou simplória demais... O que diriam os brancos puros ou metidos a puros sobre uma típica beldade africana, com seus volumosos desenhos de face e seus cabelos assumidamente ásperos e enrolados? Provavelmente, a achariam feia. Mas, a beleza não se resume a narizes, bocas, bundas  e abdômens. Da mesma maneira, a fealdade não é somente a desarmonia de um rosto ou de um corpo.

Conheci homens lindos e completamente feios, ao mesmo tempo. Felizmente, o contrário também aconteceu.

Mulheres feias podem ser extremamente sedutoras, ou fascinantes até, por uma boa mistura de atrativos que emanam.

É claro que os estetas se referenciam na precisão das formas, mas até eles reconhecem o necessário tempero da alma. Não dá para dissociar as duas coisas.

Que me desculpe o poetinha Vinícius, então, que vaticinou que a beleza é fundamental, referindo-se apenas à estética, mas “essência”  é básico. E a essência de um ser humano não se manifesta em cores e contornos, nem se mostra num caminhar. Ela é a própria pessoa, em todas as estações, mas somente se revela em sutilezas. É como uma fumaça que penetra por frestas.

Também é possível  tocar a forma e a textura, mas nem sempre conseguimos esse contato com a alma, especialmente se ela é fugidia ou vazia.

Apesar do deboche de alguns provérbios e de piadas que ridicularizam a “beleza interior”, seria bom repensar no peso excessivo que damos ao “exterior”.

Isso talvez explique parte da complacência com que as pessoas se avaliam no critério “feiúra”. Quem sabe, por se julgarem bacanas, legais e do bem, não se enxerguem no todo?

Ser feio ou ser bonito nos moldes da indústria a mim parecem critérios bastante frágeis. Amarram a idéia a uma perfeição que inexiste. O belo passa a ser sinônimo de juventude, ausência de marcas e medidas pré-determinadas. Quem não tem isso, ignora todo o resto, na supervalorização e na caça a itens que atendam a expectativas que nem suas são e, muitas vezes, esquecem que ser feliz é o maior incremento para a beleza.

Penso que devemos ser higiênicos com a própria aparência e cultivar hábitos que nos ajudem a viver bem, sem ficarmos limitados a julgamentos de quem, freqüentemente, não tem a mínima idéia de quem somos nós.

Talvez, ajudasse lembrar que os outros estão, na verdade, preocupados é com o próprio umbigo e, portanto, estão cagando pra nós! (coluna do alex palhano no Jornal Imparcial)

 * é maranhense

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