quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Não dá controlar... corrupção



Por Manu Marques Barbosa*

Não, não é sobre política. É sobre caráter. E qualquer semelhança, nesse caso, não é mera coincidência. Mas sim, mera consequência. O assunto nunca esteve tão em alta, mas lamento informar: não é de hoje. Venha, sente aqui e vamos conversar sobre corrupção.
Muito se engana quem pensa que corrupção se restringe à política. Na verdade isso não passa de uma extensão da prática já feita há muito tempo e sendo “normal” do que você possa imaginar. A corrupção é uma velha conhecida de todos nós brasileiros. Porque sim, somos todos corruptos! Ah, não fique chocado. Está na hora de encarar a realidade. Está na hora de parar de falar desse assunto em terceira pessoa. Está na hora de reconhecer a nossa parcela de culpa nesse “jeitinho” todo nosso!
Todos nós em algum momento (ou com certa frequência) já corrompemos, subornamos, adulteramos, burlamos as regras, e o que é pior: com a maior naturalidade do mundo, quer dizer, do Brasil. A corrupção nos abre um leque de incidência que via de regra nós não identificamos no nosso dia a dia, por não “incomodar”, por não parecer tão grave assim e pelo absurdo de já estarmos acostumados com tudo isso.
E é justamente aí que mora o problema (ou a solução?): o fato de essas pequenas atitudes levianas terem um caráter de insignificância. Mas isso não anula o fato de ser corrupção. E infelizmente é assim que começa. Nossas pequenas atitudes diárias de corrupção contribuem e patrocinam algo muito maior.
Há quem diga que subornar um guarda de trânsito é bem diferente de assaltar os cofres públicos. Pode ser diferente na gravidade, mas parte da mesma motivação de desvio de conduta. Sejam pequenas, médias ou grandes, ações corruptas são ações corruptas. Pequenas atitudes de corrupção sempre realimentam mais atitudes de corrupção. E é aí que temos que parar e refletir, antes mesmo de cobrar honestidade.
O caminho longo que temos a seguir de combate à corrupção começa com a percepção desse mal pela sua raiz, mas tá difícil, viu?! Uma pesquisa feita pelo Instituto Vox Populi, em 2012, apontou que um em cada quatro brasileiros (25%) não vê o suborno de um guarda como corrupção, enquanto 35% dos entrevistados não veem como corrupção atitudes como a sonegação de impostos. É o que eu disse: o absurdo de estarmos acostumados, de ser normal. Mas por favor, quando vamos entender que não é?!
Vamos fazer a mea culpa sim. É completamente absurdo pensar que alguém seja canalha ou corrupto o tempo todo, mas em alguns momentos de escolhas já agimos assim. Em alguma situação ficamos alheios ao bem comum e quisemos tirar vantagem. Nós deliberamos nossa própria trajetória, projetamos situações desejadas, decidimos sobre caminhos e descartamos outros, sempre intervindo e transformando o mundo a nossa volta, por isso devemos pensar nas nossas pequenas atitudes diárias, nessas corrupçõezinhas que podem garantir nosso conforto pessoal e atrapalhar a convivência com as outras pessoas.
Bom, se quisermos mesmo, de verdade, avançar nesse assunto precisamos reconhecer que aceitar pequenas corrupções é aceitar qualquer corrupção. Agora, se me dão licença, preciso fazer uso de Martin Luther King quando ele dizia: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética. O que me preocupa é o silêncio dos bons”. 

*Manu Marques Barbosa é uma escritora e poetisa maranhense

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