terça-feira, 2 de julho de 2019

.A poesia segundo Nauro Machado


Duplo Ruim

Toda existência 
é voraz. 
Todo ser deveria ser só. 
Não unir-se nunca, jamais, 
não enroscar-se a nenhum pó. 
Ter por casa o mundo todo. 
Ter por lar o que é do chão. 
Carne, ó dinheiro de um soldo 
ganho só com maldição! 
Vilipendiar-se? Por quê? 
Unir-se a outro? Mas com qual? 
Ser um só, para mais ser, 
fruto embora de um casal. 
Toda existência é nenhuma, 
Se feita para outra , em dois. 
Role o mar, eterna espuma, 
Presente ontem e depois.

Nauro Diniz Machado (São Luís, 2 de agosto de 1935 – São Luís, 28 de novembro de 2015), foi um poeta e escritor brasileiro. Poeta autodidata com vasto conhecimento em artes e filosofia. Comparado por alguns críticos a Fernando Pessoa, é original por ser poeta universal entre seus contemporâneos mais imediatos, como Ferreira Gullar, Lago Burnett, José Chagas e Bandeira Tribuzi. Se Gullar questiona a própria forma poética, Nauro Machado questionava a própria essência e destinação do ser humano, sem deixar de cultivar uma linguagem poética e uma técnica de versos exemplares.

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