Diz o dito popular que um cavalo selado não passa
duas vezes pela mesma porta, mas o cavalo que vai levar o desenvolvimento para
Alcântara está passando, portanto, é preciso muita responsabilidade e
honestidade para tratar o assunto e não perdermos a oportunidade. Participei de
forma bastante ativa das negociações do primeiro acordo de salvaguardas […]
De lá pra cá, desde a primeira recusa, algo mudou na vida do povo de Alcântara? A resposta é não. Os problemas ali estão ainda piores e continuam sendo estruturais tanto na educação quanto na saúde. Segundo dados do IBGE, 56,4% da população da cidade tem rendimento mensal menor que meio salário mínimo, e apenas 6,5% de domicílios possuem esgotamento sanitário adequado. Quando o assunto é tecnologia, embora já existam algumas iniciativas, quando você sai da Base, a pobreza continua imensa. Ou seja, não dá para continuar desta forma.
O debate precisa avançar, porém, reconhecendo e corrigindo os erros do passado. Por exemplo, por que os quilombolas não receberam as indenizações que foram prometidas? Qual foi o problema? Essas questões deixaram marcas profundas na comunidade e precisam ser resolvidas. Hoje, eles vivem da pesca artesanal e da agricultura de toco. Mas, é isso que queremos? É isso que eles querem? Ou será que não conseguem confiar nos acordos porque já foram enganados antes?
Acredito que nós não temos o direito de tirar o futuro de milhares de pessoas que serão beneficiadas diretamente por um novo acordo coerente, tanto nas comunidades quilombolas, como nas tradicionais e também da população vizinha de Alcântara. E isso depende apenas dos políticos. De nos organizarmos numa agenda de desenvolvimento responsável e requerermos que haja uma contribuição, como há para a comunidade da Base de Kouru, na Guiana Francesa, onde existe uma espécie de “salário mínimo” de aproximadamente R$ 4 mil reais para quem, antes, vivia no nível da mais absoluta pobreza. Aqui no Brasil, esse valor é perfeitamente possível de acordo com a previsão de investimento e lucro com a nova Base.
O certo é que eu não acredito que, sem uma ajuda externa, sem receita externa, gerada por um outro agente econômico, Alcântara consiga melhorar a vida dos seus cidadãos. Ter a Base é uma oportunidade. Isso é fato. O cavalo está passando selado pela segunda e, como maranhense, não vou deixar essa oportunidade ser desperdiçada sem antes usar argumentos como os que estou usando agora e me baseando em dados que demonstram a situação difícil que vive o município.
Durante muitos anos, fui político em Alcântara, junto com minha amiga Heloisa Leitão, e levamos muitos benefícios para aquele município, mas parece que a partir dali a situação só se agravou, e a população foi perdendo a esperança.
Vamos discutir antropologia e tudo o que precisa ser discutido, com a consciência de que temos a obrigação de proteger os quilombolas e de que vamos fazê-lo. Aqui, na bancada federal, sinto que todos estão focados nisso.
Não vamos pôr em risco e nem vamos espantar o cavalo selado. Vamos aceitar esse desenvolvimento que Deus nos fornece, já que é em função da localização privilegiada, e vamos usufruir dessas vantagens.
Tenho certeza de que os quilombolas não querem só o caminho do mar para pescar de forma rudimentar. Eles querem, acima de tudo, uma vida melhor; querem renda; querem algo que os tranquilize, que justifique o fato de eles terem sofrido durante tanto tempo com o abandono e sem novos enganos. Não vamos deixar o cavalo fugir. Esse é o apelo que faço a todos.
Este texto de autoria do deputado federal Gastão Vieira (PROS-MA) foi publicado originalmente no jornal o Imparcial de São Luís do Maranhão.
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