Todas as manhãs o mirante
me
lança pela janela
uma
amostra grátis
de
São Luís
A
janela me escova os dentes
e
o dia me chega à boca
como
um fruto novo
que
amadurece enquanto
vai
sendo comido
Me
alimento de tempo
e
duro horas inteiras de sonho
duro
o espaço
em
que me movo
como
dentro de um saco
e
ante a manha
que
me exige presente
compareço
a mim mesmo
numa
obrigação de alma e ossos
O
sol se move
contra
o meu horizonte
e o tempo é claro em mim
e o tempo é claro em mim
como
na paisagem lenta
que
se pendura em meus olhos
balança
entre azul e vento
alongando-se
até onde árvores e casas
se
cansam do espaço
e
morrem de infinito
Sou
um
entre
quatrocentos mil
numa
cidade
de
quatrocentos anos
e
tiro da manha o que me toca
de
sol o que me cabe
de
ar o que é necessário
para
manter-me sentado
sobre
lascas de solidão
a pedras de silêncio quebrado
pela anunciação do dia
A manhã é feita de sempre
mas se utiliza de sol e pássaros
a pedras de silêncio quebrado
pela anunciação do dia
A manhã é feita de sempre
mas se utiliza de sol e pássaros
para
o velho anúncio
de sua certeza
São Luis sabe de manhã
antes de qualquer outro lugar do mundo
porque há um galo no quintal de tempo
ferindo sua crista no sonho
e seu canto chega em pedra ao mirante
que sabe adivinhar o dia
por trás dos muros
Aqui o tempo não dura em passar
mas em ficar à espera de quem o descubra
como curtida matéria de vida
pronta à ressurreição das coisas
São Luís é toda de manhã
como o aviso claro de um dia
São Luís requer a alegria
de sua certeza
São Luis sabe de manhã
antes de qualquer outro lugar do mundo
porque há um galo no quintal de tempo
ferindo sua crista no sonho
e seu canto chega em pedra ao mirante
que sabe adivinhar o dia
por trás dos muros
Aqui o tempo não dura em passar
mas em ficar à espera de quem o descubra
como curtida matéria de vida
pronta à ressurreição das coisas
São Luís é toda de manhã
como o aviso claro de um dia
São Luís requer a alegria
do
olho mas também do salto
da alma e até o labor interno
do sonho
em sua fúria mansa
sobre o real
da alma e até o labor interno
do sonho
em sua fúria mansa
sobre o real
De ordem de quem
sopra o vento
de ordem de quem
dói a vida
de ordem de quem
desce o acaso
sobre o tempo
de ordem de quem
sopramos nós
o silêncio em pó
de seus séculos
— São Luís indaga
antes de entregar-se
sopra o vento
de ordem de quem
dói a vida
de ordem de quem
desce o acaso
sobre o tempo
de ordem de quem
sopramos nós
o silêncio em pó
de seus séculos
— São Luís indaga
antes de entregar-se
José Chagas foi um poeta
maranhense, embora tenha nascido no estado da Paraíba. Ocorre que toda a sua
rica e vasta produção poética foi inspirada em motivos maranhenses. Certo pensador
disse o seguinte: “Nascer é um ato circunstancial. O que isso significa? Que o
nosso lugar é aquele que gostamos e que amamos. É o lugar nos qual nos sentimos
bem e realizados plenamente. O lugar onde residem os nossos amigos, as pessoas
que amamos e onde nós nos realizamos pessoal e profissionalmente.Toda poesia de José Chagas é impregnada de maranhensidade.
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