quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

A poesia segundo Catulo da Paixão Cearense

Quando foges do meu lado,
minh´alma ansiosa te espera,
como a roseira, sem rosas,
a volta da Primavera.

         Se vejo as tuas roseiras
por essas manhã cheirosas,
tenho a ilusão de estar vendo
um grande incêndio de rosas.

         Do teu anel primoroso
a pedra viva, encarnada,
é um grande pingo de sangue
numa flor amorenada.

         Perdi! Chamei por tu nome!
Tu te fizeste de mouca!
Dei-te um beijo, e então ficou-me
um mel de fogo na boca.

         No teu jardim toda a noite
choro estas trovas fagueiras!
Rezo nele, como Cristo
no jardim das Oliveiras.

         “Quais são as cores do beijo?”
ela  a mim me perguntou!
— Os teus— lhe disse — são verdes!
Maduros — os que te dou.

         Estes teus olhos formosos
de um azul límpido se leve,
são dois beija-flores
num ninho feito de neve.

         Quando passas pelas rosas,
soluçando os teus odores,
eu faço os jardins rezando
um Padre-Nosso de flores.

         Saías ontem da igreja,
depois da missa acabar,
e eu gritei: olha uma Santa
fugida de seu altar.

        Tens tanta flor na janela,
que mais um jardim parece;
no entanto, só quando chegas,
é que a janela floresce.

 O poeta e músico (seresteiro) Catulo da Paixão Cearense, nasceu em São Luís do Maranhão e faleceu na cidade do Rio de Janeiro. Catulo é autor da consagrada música: Luar do Sertão

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