A Rua dos Cataventos
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Do amoroso esquecimento
Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
A melhor definição para Mario Quintana, foi feita por ele mesmo, em 1984: “Nasci em
Alegrete (RS), em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me
aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que
toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos
meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse
uma confissão. Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima
prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava
pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill
nascera prematuro — o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton!"
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