
por Priscilla Santos

Se ao ler o título desta matéria você tascou logo um: No Brasil é impossível, ok, compreende-se seu ceticismo. Mas, de cara, aí vai uma informação que pode fazer você rever sua opinião: a bicicleta é o veículo individual mais usado no país. A conta é fácil: a magrela é o meio de transporte próprio mais popular nos pequenos centros urbanos (municípios com menos de 50 mil habitantes), que representam mais de 90% das cidades brasileiras (lembra a cena típica do trabalhador rural pedalando pela estrada?). Surpreendente mesmo. Quem sabe não vale a pena você seguir adiante e descobrir que é possível desmontar outros mitos e também reafi rmar verdades? É fato que aquilo que você vê pela janela do carro não é convidativo e pode fazê-lo desistir de ler esta matéria agora mesmo. O trânsito nas grandes cidades do país está um caos, como diz o chavão. Mas não seria justamente esse um bom motivo para você aposentar o carro? É o que muitas pessoas têm feito.
Em São Paulo, faça sol ou faça chuva, uma sexta-feira por mês, enquanto os carros mal se movem pelas ruas, ciclistas se encontram na altura do número 2440 da avenida Paulista. Dali, saem numa espécie de carreata mas, claro, de bicicleta para divulgar a bike como meio de transporte. Eles param o trânsito e chamam a atenção dos motoristas para essa opção de transporte menos poluente e, muitas vezes, mais rápida. Num engarrafamento na capital paulista, os automóveis andam de 5 a 8 quilômetros por hora, enquanto a bicicleta chega a 15. Volta e meia, o grupo, que não tem líder nem estatuto, pinta bicicletas no asfalto ou nos pontos de ônibus (como o da foto ao lado), sinalizando que a rua é também do ciclista, ou pendura bikes brancas, as chamadas ghost bikers, em pontos da cidade em que ocorreram acidentes fatais com ciclistas. Assim é a Bicicletada, versão brasileira de um movimento que surgiu em São Francisco, Califórnia: o Critical Mass, hoje em 300 países.
Diferentemente da Europa, onde os governos criaram espontaneamente espaços para ciclistas, em São Franscico a coisa teve de ser conquistada. O Brasil deve ir pelo mesmo caminho, já que tem aliado esse tipo de cicloativismo mais guerrilheiro, bem representado pela Bicicletada, ao diálogo com as autoridades. O importante é que essas duas partes são muito parceiras, diz José Lobo, da ONG carioca Transporte Ativo.
Em 2004, o Ministério das Cidades lançou o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, que funciona como uma bússola para os municípios que pretendem ampliar o uso desse meio de transporte. Saímos de 99 para 276 municípios com algum tipo de via para bicicleta e saltamos de pouco mais de 600 para 2505 quilômetros de ciclovias, de 2003 para cá, diz o diretor de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, Renato Boareto. Comparado à Europa é pouco, claro. A Holanda tem um quinto do território do estado de Santa Catarina e 14 vezes mais infra-estrutura nesse campo que o Brasil. Mas o mais importante é o número de cidades que têm projetos, diz Renato.
Se o papo é metrópole, o Rio de Janeiro sai na frente. Além de ter mais ciclovias são 140 quilômetros construídos e 60 projetados , elas existem há mais de 15 anos, diz José Lobo. Lá, o número de ciclistas que fazem a viagem casa-trabalho diariamente quase quadruplicou entre 1994 e 2004. São Paulo também está pedalando. Em 2007, lançou uma lei que declara a criação do sistema cicloviário do município e prevê, por exemplo, a construção de ciclovias, ciclofaixas (faixas exclusivas para bicicletas na mesma pista dos automóveis) e estacionamentos para magrelas. Estão para ser entregues aos paulistanos os 12,5 quilômetros da ciclovia Radial Leste, que liga as estações de metrô Tatuapé e Corinthians-Itaquera, na zona leste. O projeto cicloviário do bairro Butantã, na zona oeste, também é animador. Serão 80 quilômetros a ser percorridos por bike, sendo 15 de ciclovias, facilitando o acesso à Universidade de São Paulo, sediada na região.
Mas não adianta ficarmos sentados esperando as obras terminarem (se é que na sua cidade há alguma), pois o mundo não acaba em ciclovia. Veja bem: o maior inimigo da bicicleta é o carro em alta velocidade. A ciclovia é uma boa opção para as avenidas em que a velocidade máxima permitida é superior a 60 quilômetros por hora. Ainda assim, não resolve de todo o problema: a cada dez acidentes com ciclistas, de oito a nove ocorrem nos cruzamentos. E é impossível construir uma ciclovia sem cruzamentos, como bem lembra o cicloativista Arturo Alcorta, da Escola de Bicicleta, de São Paulo.
A saída é mais óbvia do que parece: segurança no trânsito. Não dá para você pensar a cidade como se um dia todas as pessoas fossem ter automóvel. Esse é um equívoco presente em quase todos os planos de cidade e mobilidade urbana no Brasil. A cidade tem que ser pensada considerando o deslocamento do pedestre, dos ciclistas, da criança, do idoso, diz Renato Boareto. Essa é a idéia das ciclorredes, um emaranhado de caminhos preferenciais para as bicicletas, mas que também trazem mais conforto e segurança para todos que circulam por ela. Presente em cidades americanas como Berkeley e Portland e em vilarejos da Holanda, sua regra número 1 é: diminuir a velocidade máxima dos automóveis, o que pode ser feito tanto por meio de legislação quanto com o estreitamento das ruas, construção de minirrotatórias nas esquinas e elevação das faixas de pedestre para a altura da calçada, formando uma lombada, por exemplo. Essas medidas, que fazem com que o carro vá naturalmente mais devagar, fazem parte do conceito de traffic calming, ou moderação no trânsito, que surgiu nos anos 60, quando os habitantes da cidade de Delft, na Holanda, fizeram um movimento para que suas ruas voltassem a ser quintais cheios de vida.
Mas, se nossa realidade ainda não é essa, o que fazer? A seguir, algumas respostas para aquelas dúvidas cabeludas que impedem a maioria das pessoas do mundo de trocar o carro pela bicicleta. (infromações da Revista Vida Simples)
Em Tempo:
O estilo de vida simples, além de ajudar o Planeta Terra a respirar melhor, devido à redução de gases poluentes, ajuda o ser humano a viver mais e com mais qualidade de vida. (DS)
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