O culto ao
Divino Espírito Santo no Maranhão provavelmente teve início com os colonos açorianos e seus descendentes, que desde o início do século XVIII começaram a habitar a região. Em meados do século XIX, a tradição da
festa do Divino estava firmemente enraizada entre a população da cidade de Alcântara,
de onde teria se espalhado para o resto do Maranhão, tornando-se muito popular
entre as diversas camadas da sociedade, especialmente as mais pobres. Essa
popularidade entre os setores mais humildes da população maranhense, inclusive
os escravos, talvez possa ser explicada pela ênfase não só na fartura, mas
também na fraternidade e na igualdade, que o culto ao Divino costuma apresentar.
A festa do Divino Espírito Santo
no Maranhão é um dos
muitos festejos que fazem parte da cultura popular do Maranhão, destacando-se como um dos mais
importantes, por sua ampla difusão e pelo impacto que tem sobre a população.
Hoje, existem dezenas de festas do Divino espalhadas por todo o Estado, levando
adiante uma tradição viva e dinâmica, em que se destaca a beleza do repertório
musical.
Toda a
festa do Divino gira em torno de um grupo de crianças, chamado império ou reinado.
Essas crianças são vestidas com trajes de nobres e tratadas como tais durante
os dias da festa, com todas as regalias. O império se estrutura de acordo com
uma hierarquia no topo da qual estão o imperador e a imperatriz (ou rei e rainha),
abaixo do qual ficam o mordomo-régio e a mordoma-régia,
que por sua vez estão acima do mordomo-mor e da mordoma-mor.
A cada
ano, ao final da festa, imperador e imperatriz repassam seus cargos aos
mordomos que os ocuparão no ano seguinte, recomeçando o ciclo.
A festa
se desenrola em um salão chamado tribuna,
que representa um palácio real e é especialmente decorado para este fim. A
abertura e o fechamento desse espaço marcam o começo e o fim do ciclo da festa,
durante o qual se desenrolam as diversas etapas que, em conjunto, constituem um
ritual extremamente complexo, que pode durar até quinze dias: abertura da
tribuna, busca e levantamento do mastro, visita dos impérios, missa e cerimônia
dos impérios, derrubamento do mastro, repasse das posses reais, fechamento da
tribuna e carimbó de caixeiras.
Entre os
elementos mais importantes da festa do Divino estão as caixeiras, senhoras devotas que
cantam e tocam caixa acompanhando todas as etapas da cerimônia. As caixeiras de São Luís
são em geral mulheres negras, com mais de cinqüenta anos, que moram em bairros
periféricos da cidade. É sua responsabilidade não só conhecer perfeitamente
todos os detalhes do ritual e do repertório musical da festa, que é vasto e
variado, mas também possuir o dom do improviso para poder responder a qualquer
situação imprevista. As caixeiras do Divino são portadoras de uma rica tradição
que se expressa nas cantigas que pontuam cada uma das etapas da festa.
A Corte Imperial |
As caixeiras do Divino espirito Santo |
Nenhum comentário:
Postar um comentário