por Nicolas Chernavsky*
Ao dizer que governaria com “os
melhores”, Marina dá a entender que não formaria uma base de governo com a
maioria do parlamento; nisto consiste a ilusão essencial de sua candidatura.
A
candidata da coalizão liderada pelo PSB, Marina Silva, diz que vai governar com
“os melhores”, dando a entender que ela, como presidenta, vai escolher as
pessoas mais adequadas para cada cargo, sem levar em conta as pressões do
Parlamento brasileiro. Essa poderia até ser uma proposta de um presidenciável.
Afinal, é mesmo certeza que um presidente precisa ter uma base de governo com a
maioria do Parlamento? O Parlamento brasileiro tem que aprovar o Orçamento da
União todos os anos, aprovar indicações para agências reguladoras e o
Judiciário, além do que muitas vezes é necessária a aprovação e regulamentação
de leis para a execução de políticas do governo. Sem falar que com 2/3 do
Parlamento se retira um presidente do cargo, o que aconteceu com Fernando Collor.
O impeachment não é uma decisão jurídica, é uma decisão política do Parlamento,
como prova o fato de Fernando Collor ter sido posteriormente inocentado pelo
STF. Mas isso – o governo não ter uma base com a maioria no Parlamento –
aconteceria em um eventual governo Marina? Tudo indica que não. E se não
ocorreria, está sendo prometida uma ilusão ao povo brasileiro, ou seja,
“ilusão” no sentido de um desejo irrealizado, mas visto como realizado (como a
ilusão do oásis no deserto, que a pessoa sedenta enxerga como real porque quer
muito que haja água).
E quais
são as indicações de que Marina formaria sim uma base do governo com a maioria
do Parlamento? Em primeiro lugar, ela é candidata de um partido político, o
PSB, em coligação com vários outros pequenos partidos. Nesse caso, não é crível
que os partidos da coalizão, incluído o PSB, deixariam que ela escolhesse todos
os cargos sem influência deles. Sem falar que em um eventual segundo turno
contra Dilma, o PSDB, o DEM, o Solidariedade e outros partidos muito
provavelmente apoiariam Marina, além de políticos como Fernando Henrique
Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Depois dessa disputa do
segundo turno, se Marina saísse vitoriosa, não seria absolutamente crível que
todos esses setores deixassem que ela escolhesse todos os cargos sem a
influência deles.
Há
outros fatores também a considerar. Os meios de comunicação fora da Internet,
especialmente a maioria dos canais de televisão aberta, rádios, jornais e
revistas, em geral sustentados majoritariamente pela publicidade, apoiariam
Marina contra Dilma em um segundo turno. Novamente, pensar que todos esses
setores deixariam Marina escolher todos os cargos sem a influência deles é
irreal.
E tem
mais. Vemos que gigantescos bancos e empresas apoiam Marina. Certo, então
teria-se que achar factível que em um eventual governo dela, também eles vão
deixá-la escolher todos os cargos sem a influência deles.
Enfim, essa ilusão precisa ser desfeita. É praticamente certo
que Marina teria uma base de governo com a maioria do Parlamento. Sendo assim,
a pergunta que não quer calar é: qual seria sua base no
Parlamento?
Em um segundo turno contra Dilma, além dos partidos de sua
coalizão liderada pelo PSB, Marina receberia muito provavelmente, como
mencionado anteriormente, o apoio do PSDB, DEM, Solidariedade e de outros
partidos que hoje apoiam outros candidatos presidenciais. Se Marina vencesse a
eleição, alguém consegue imaginá-la não colocando esses partidos em sua base do
governo no Parlamento e o PT sim? Não, o PT (como partido, não com um ou outro
ministro) não entraria em sua base, ou seja, com essa polarização do segundo
turno, a tendência, fortíssima, seria a formação de uma base de governo de
Marina no Parlamento com quase todos os partidos (inclusive o PMDB) e sem a
grande maioria do PT, e talvez sem o PCdoB e algum outro partido mais
progressista. Assim, deixando grande parte do PT e talvez do PCdoB fora da
base, o governo Marina formaria uma base de governo no Parlamento
conservadora, por incluir quase todo o espectro mais conservador do
Parlamento.
Quanto a uma eventual vitória da Dilma, que base de governo ela
formaria? Uma base relativamente semelhante à atual, liderada pelo PT e o PMDB,
com PDT, PROS, talvez até o PSB, PP, PR e outros partidos que formariam uma
maioria no Parlamento que, mesmo tendo elementos conservadores, incluiria a
parte do Parlamento mais progressista, configurando uma base de governo no Parlamento
progressista.
Então,
é importante para o eleitorado ter clareza de que a principal escolha a ser
feita nessas eleições presidenciais de outubro próximo é se o Brasil vai ter um
governo progressista ou um governo conservador. Dos três candidatos com chances
reais de vitória (Dilma, Marina e Aécio), temos que, com Dilma, o Brasil terá
um governo progressista; com Marina ou Aécio, o Brasil terá um governo
conservador.
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