Há um réu na linha de sucessão
presidencial
Na última
terça-feira, em debate na Ordem dos Advogados do Brasil, Renan Calheiros
definiu o modelo político brasileiro como “caquético”. Afirmou que “é hora de
fazer mudanças radicais em um sistema que está falido e fedido.” Decorridas 48
horas, o Supremo Tribunal Federal confirmou o diagnóstico. Ao enviar Renan para
o banco dos réus, a Suprema Corte sinalizou que o Senado brasileiro é presidido
por um político um tanto malcheiroso e com prazo de validade vencido.
Na ação
penal que o Supremo acaba de inaugurar, Renan responderá pelo crime de
peculato. No português das ruas, acusam-no de desviar verbas públicas em
proveito particular. O caso envolve o recebimento de propinas de uma
empreiteira, para custear a pensão de uma filha que o senador teve fora do
casamento. Protagonista de 12 processos judiciais, Renan tornou-se evidência
viva da necessidade das “mudanças radicais” que Renan considera inadiáveis.
No
Brasil, um país onde alguns políticos suprimiram dos seus hábitos o recato,
réus e investigados circulam normalmente pelos corredores do Congresso e pelo noticiário
da tevê sem que as crianças sejam retiradas da sala. Se Renan enxergasse Renan
refletido no espelho, talvez renunciasse à presidência do Senado. Mas o
personagem, como tantos outros, acha que nenhuma revelação será capaz de abalar
o seu prestígio.
Há um réu
na linha de sucessão da Presidência da República. Mas a banda muda do Congresso
acha tudo muito normal. No momento, a prioridade de réu que comanda o Senado é
a aprovação de um projeto sobre abuso de autoridades como juízes e
procuradores. E todos acham normal. O governo de Michel Temer pede aos
brasileiros que, em nome da governabilidade, finjam que Renan não é Renan.
Amanhã,
se Temer, o improvável, e Rodrigo Maia, o inacreditável, viajarem juntos para o
exterior, Renan, o inaceitável assumirá a Presidência da República. E ninguém
se espanta. No Brasil, parece não haver espaço para mais do que dois tipos de
pessoas: ou o sujeito é cínico ou se faz de bobo. Vamos lá, ânimo, gente. É
pela governabilidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário