Dom Antônio Emídio Vilar
Bispo de São João da Boa Vista (SP)
Bispo de São João da Boa Vista (SP)
“Política é a forma mais perfeita da
caridade!”
A POLÍTICA
BRASILEIRA: – Embora sejam poucos os bons exemplos de quem a exerce, não há
dúvida de que, na essência, ela é UM BEM PARA TODOS. Sim, porque política é,
originalmente, um modo de pensar e conviver em sociedade, com um objetivo
saudável e comunitário, isto é, o BEM DA PESSOA HUMANA EM SOCIEDADE, o BEM
COMUM (João XXIII, Pacem in
terris, 54; Gaudium et
Spes, 26). Daí que, na política, não importa a diversidade de
pensamentos ou posição, o que importa é o objetivo para o bem comum. Por isso
já se disse que política é a convivência sadia dos pensamentos/manifestações
contrários. O importante é que sempre brote em nós o desejo de um bem, UMA
EXIGÊNCIA DE VALORIZAÇÃO DO OUTRO, como pessoa humana, IMAGEM E SEMELHANCA DE
DEUS (Catecismo da Igreja Católica, 1700).
Quando
pensamos no nosso Brasil, nosso desejo não pode ser outro, a não ser de manter
RELAÇÕES JUSTAS E FRATERNAS entre pessoas e grupos, de redescobrirem, de
conversarem e de se indignarem com os desvios de conduta que,
tristemente, terminam em corrupção, com a certeza da impunidade.
Contudo, NÃO DEVEMOS DESANIMAR, MAS REANIMAR, fazer reflorescer o desejo de
boas condutas pessoais e sociais que nos sustentam como bandeira da esperança e
da liberdade humanas/ cristã, que fundamentam o espírito de uma verdadeira
democracia.
POLÍTICA NÃO
É UMA PROFISSÃO E NEM UMA HERANÇA FAMILIAR. Lamentavelmente, são muitos os
profissionais políticos, mas carregamos um certo grau de culpa, pois
somos nós que os elegemos. Precisamos considerar que, se reelegermos um candidato
que se tornou profissional da política, estaremos afastando-nos do exercício do
bem comum. Nenhum político servirá ao bem comum ou retomará o bom propósito, se
continuarmos neste provinciano, colonial, falido e corrupto sistema político de
eleger “salvadores da pátria”, “coronéis modernos”, pessoas mal-intencionadas,
que discursam apenas para a ocasião e prometem o que não podem cumprir.
A MUDANÇA NO
SISTEMA POLÍTICO, TRIBUTÁRIO, JURÍDICO, temas tão delicados e complexos, não
passa apenas pelos que são eleitos, mas está inserida NA ATITUDE CIDADÃ de cada
um de nós, que precisa educar-se para fazer da vida um serviço ao outro, na
participação em trabalhos sociais e comunitários, que nos tornam
verdadeiros agentes de transformação. É preciso, ainda, abrirmos
espaços e descobrirmos momentos reais para atuarmos na vida pública de nossa
Cidade, Estado e País. Faz-se necessária a participação nos Conselhos
municipais, nas reuniões da Câmara Municipal, acompanhando
discussões e votações no Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa,
bem como fiscalizando os governos estadual e federal.
Nós, bispos,
iniciamos a nossa mensagem da 56ª Assembleia geral da CNBB ao povo brasileiro,
com a citação aos Hebreus (10, 23): “Continuemos
a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer”, por acreditarmos que
as PRÓXIMAS ELEIÇÕES NOS PROVOCAM E DESAFIAM a termos esperança e a darmos
razão de nossa fé como discípulos missionários. É o momento propício para que
firmemos nossa posição e expressemos nosso “BASTA” àqueles que se servem da
vida pública, através da política. Cristo Jesus nos chama a vivermos a vida
pública à luz do Evangelho. Esse deve ser o nosso lema.
NÃO PODEMOS
CAIR NO ENGANO DE ACREDITAR QUE VOTAR É APENAS MAIS UMA OBRIGAÇÃO E QUE NOSSO
VOTO POUCO OU NADA ADIANTA.
Estejamos
atentos para não corrermos o risco de apenas ficar reclamando depois, pois, se
não nos interessarmos por participar da política agora, ela acabará sendo usada
por pessoas que não se preocuparão com o bem comum, mas com seus interesses particulares,
o que, inevitavelmente, gerará mais CORRUPÇÃO E IMPUNIDADE.
A escolha
daqueles que dirigem os nossos destinos na vida pública, tem que ser baseada em
princípios éticos emorais. Precisamos de pessoas que incentivem o bem comum,
promovam a vida desde o seu início até seu término natural e fortaleçam as
organizações sociais, principalmente as que são modelo de serviço ao outro,
de construção de comunidades verdadeiramente solidárias, de EXEMPLO DE VIDA
CRISTÃ.
Por isso,
com a consciência alicerçada nos princípios cristãos, VAMOS ELEGER PESSOAS QUE:
Saibam
educar-se PARA TRABALHAR EM CONJUNTO. Queremos governos que respeitem a
liberdade e a criatividade das pessoas, que valorizem as iniciativas sociais e
que respondam às necessidades cotidianas. Não queremos governantes que
acreditam que cabe somente a eles decidir o que é bom para todos.
Candidatam-se
porque possuem UMA TRAJETÓRIA DE VIDA PESSOAL comprometida com a superação da
pobreza, com a educação, a saúde, a moradia, o saneamento básico, a promoção da
vida e ao meio-ambiente. Não compram votos e nem barganham votos e licitações
públicas, para depois recuperarem o que gastaram ou simplesmente
enriquecerem-se ilegalmente.
Para eleger
esse tipo de pessoa vamos:
1 – Observar
se o candidato representa e apresenta apenas o interesse de um grupo ou partido
ou se pretende, com projetos, promover políticas que beneficiam a todos. O bom
governante governa para todos e não faz campanha com dinheiro de empresas na
TROCA DE FAVORES, nem se propõe a comprar seu voto.
2 – Se os
candidatos têm “ficha limpa”, sem processo judicial, e que não estejam na lista
da “Lava-Jato” ou de alguma outra operação policial, especialmente de ofensa à
“coisa” pública. O HOMEM PÚBLICO DEVE TER HONESTIDADE (idoneidade moral), ser coerente
em sua postura e não mudar frequentemente de partido.
3 – VOTAR
NÃO PARA AGRADAR ALGUÉM, mas em pessoas que possam representar você na
utilização do seu dinheiro na educação, saúde, criação de empregos, promoção
humana e social. Devemos tomar muito cuidado com os arrogantes, populistas,
demagogos e bajuladores, os quais não inspiram confiança.
Por isso,
queiramos ou não, precisamos da política. Ela faz parte da nossa vida. É
irracional pensarmos que, para derrotar a crise política, basta estarmos contra
alguém, ou à espera de um “salvador da pátria”, ou ainda negar a sua
existência, que é pior ainda. Afinal, o que teríamos em comum para
modificar? Não estaremos agindo contra um inimigo, mas por um bem comum
maior, desejado e perseguido.
Cada um de nós
é corresponsável pelos destinos de nossa cidade, de nosso Estado, de nosso
País.
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