quinta-feira, 27 de junho de 2019

Os esquecidos, humilhados e ofendidos de uma nação rica


O escritor Fiódor Dostoievski no seu romance Humilhados e Ofendidos, publicado no século XIX, retrata uma realidade cruel na Rússia czarista, onde o povo russo é diariamente ofendido nos seus direitos e humilhados pelas circunstancias da vida, numa sociedade onde os pobres são tratados como objetos, como coisas e seres inservíveis e desprezíveis. Nesse seu festejado livro, Dostoievski denuncia as humilhações e as ofensas que os russos da mais baixa estratificação social sofrem.

Hoje, já passados mais de dois séculos da publicação desse que é considerado um dos mais importantes romances da literatura russa e quiçá mundial, é duro constatar que os pobres do século XXI continuam levando uma vida que os pobres do século XIX viviam.  

No Brasil por exemplo, ainda é muito grande o número de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza - em condições de vida humilhante, degradante e ultrajante. Enquanto que a elite rica brasileira, vive num paraíso, em verdadeiras ilhas de riqueza e prosperidade. E o que mais grave: os pobres brasileiros que habitam o Brasil Profundo e os grotões, além de viverem com os pés fincados no Brasil do descobrimento, as políticas públicas nesses rincões nunca chegam e quando chegam, são ofertadas como esmolas e atos de bondade pelo dono do pedaço, como se diz na gíria, ou seja, do coronel e do cacique da política local.  

Sob os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), houveram significativos avanços no espectro social, mas, insuficientes para libertar os humilhados e ofendidos da nação. Uma gente que sobrevive dos restos do banquete de uma elite perversa, cruel e egoísta.

Essa triste condição de vida da maioria da população brasileira, talvez explique o quadro de violência permanente em que vive o povo brasileiro. Os ricos ainda se sentem protegidos em condomínios fechados, por cercas elétricas e guardas de segurança, mas, eis que vai chegar o dia em que a turba motivada e movida pela fome, pela miséria e pelo ódio que ela sente pelos seus algozes, vai romper o cinto de isolamento, tomar as ilhas de prosperidade de assalto e promover sua grande vingança. Isto é, se nada for feito no sentido reduzir o fosso que separa a elite rica dos Humilhados e Ofendidos.

por Tomazia Arouche

Nenhum comentário: