sexta-feira, 16 de agosto de 2019

A poesia segundo Augusto dos Anjos


Idealismo
  

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita (dado aos prazeres físicos) e da hetaira (cortesã),
De Messalina e de Sardanapalo?! 
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro — 
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!


Augusto dos Anjos é um poeta do Engenho do Pau d’Arco, da Paraíba, do Recife, do Nordeste brasileiro, do começo deste século [o 20]. Essa não é uma referência meramente biográfica, externa à sua obra. Não: sua condição de homem, concreta, histórica, determinada, informa os poemas que escreveu, e não apenas como causa deles, em última instância: é matéria deles. Com Augusto dos Anjos penetramos aquele terreno em que a poesia é um compromisso total com a existência”. (Ferreira Gullar)

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