segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Da série grandes personalidades maranhenses: médico, escritor e sacerdote JOÃO MOHANA




Por Manoel Santos

O padre João Mohana publicou 43 livros, consagrando-se como um dos maiores escritores do Brasil

A vida de João Miguel Mohana (1925-1995), uma das figuras maranhenses mais belas do século XX, apresenta todos os aspectos de uma verdadeira pastoral vocacional. Ele deixou um rico legado de trabalho e de fé.

João Mohana nasceu no Maranhão, na cidade de Bacabal, no dia 15 de junho de 1925. Autor de mais de 40 livros, ele chegou a ser um dos escritores mais lidos no Brasil. Para familiares, amigos e uma legião de fiéis, foi brilhante nas três dimensões nas quais atuou: como médico, como padre e como escritor. Formou-se em Medicina bem jovem, respeitando um desejo de família.

Em 1949, quando completou o curso de Medicina pela Universidade Federal da Bahia, especializando-se em Pediatria, veio clinicar em São Luís. Paralelamente a esta atividade profissional, desenvolveu, na capital maranhense, importante atuação cultural, como presidente da Ação Católica, arregimentando novos talentos em torno do teatro, cinema, música e literatura, visando novas linguagens, movimento efetivamente vitorioso com a revelação de valores que depois passariam a figurar significativamente no cenário cultural brasileiro.
Anos depois, atendendo ao chamado da própria vocação, trocaria a Medicina por sua grande paixão e vocação maior, a Igreja e a vida de padre. Aos 30 anos, entrou para o Seminário de Viamão, no Rio Grande do Sul e, em 1960, tornou-se padre.

Como sacerdote, criou e orientou um grupo de jovens: a Juventude Universitária Autêntica Cristã (Juac), que ajudou a formar diversas gerações de maranhenses.

Levado por um sonho romântico – o da realização de uma vida, tendo por base uma obra literária -, o padre João Mohana acabou alcançando o posto de um dos escritores mais lidos no País. Com um estilo elegante e ágil nas linhas, vivo e sutil nas entrelinhas, ele escreveu livros que tratam de assuntos contemporâneos, àquela época, em face da conjuntura vigente, como também de questões mais amplas, como a transcendência de Deus e a aventura da existência humana, com seus enigmas e incertezas.
Além de dois romances – O Outro Caminho e Maria da Tempestade -, Mohana escreveu três peças de teatro (Abraão & Sara, Casulo de Pedra e Inês e Pedro), como também numerosos trabalhos de espiritualidade e orientação existencial, entre os quais se encontra, segundo opinião de especialistas, “a melhor coleção brasileira de educação para o casamento”.

Situado entre os autores brasileiros de maior sucesso de público, diversos livros seus foram traduzidos para o inglês, o espanhol, o italiano e o alemão.

Pesquisador da música maranhense, chegou a recolher um valioso acervo de centenas e centenas de partituras recolhidas na capital e em cidades do interior do Estado.

Autor de vasta bibliografia, com 43 livros publicados, ganhou prêmio da Academia Brasileira de Letras e foi eleito, em abril de 1970, para a Academia Maranhense de Letras, onde passou a ocupar a Cadeira nº 3. É o patrono da Cadeira nº 36 da Academia Ludovicense de Letras.

O padre João Mohana foi um dos maiores oradores sacros que o Maranhão teve a honra de beber na fonte de seu verbo, a inspirada lição de Deus no diálogo com os homens. Dono de um poder criativo inesgotável, sem perder um linguajar vivo, colorido, cativante, foi também autor de peças de teatro, gravações em discos e fitas. E grande parte de sua obra foi traduzida para outras línguas, em outros países.

Faleceu em São Luís, aos 70 anos de idade, no dia 12 de agosto de 1995. Nesta data, houve imensa comoção coletiva em razão de sua partida. Do velório na Igreja da Sé até o seu sepultamento no Cemitério do Gavião, o Maranhão presenciou, com lágrimas abundantes e o coração partido, o maior enterro visto em toda a nossa história. Este texto foi publicado originalmente no Jornal Pequeno de São Luís do Maranhão

Inesquecível Mohana

Por Natalino Salgado

O escritor Mia Couto, em seu livro “Estórias abensonhadas”, incluiu um conto chamado “Nas águas do tempo”, no qual ele discorre acerca da vida de seu avô, descrevendo-o como um “homem em flagrante infância, sempre arrebatado pela novidade de viver”.

Lembrei-me dessa frase por ela ser perfeita para retratar a história de um dos grandes homens nascidos nesta terra. Por conta de compromissos profissionais fora do país, não pude atender ao convite e estar presente à deflagração de homenagens realizadas recentemente ao escritor, médico e padre João Mohana. Trata-se da iniciativa do grupo católico Caminho do Meio, que pretende concretizar uma série de eventos até a culminância do mês de junho de 2015, quando o inesquecível sacerdote, se vivo estivesse, completaria 90 anos.
Mesmo a distância, fiquei feliz com o sucesso desse primeiro evento que lotou o auditório do Conselho Regional de Medicina e que foi cenário de manifestações de apreço e carinho por João Mohana, a exemplo dos depoimentos do sobrinho José Antônio Mohana, da escritora Arlete Nogueira da Cruz, do radialista Robson Jr. e de dom José Belisário. Soube que até o cantor padre Zezinho enviou um e-mail a respeito da importância da vida e obra de Mohana, o qualfoi lido pelo padre Djalma Lúcio. Abrilhantando ainda mais o evento – numa iniciativa dos músicos Joaquim Santos e Paulo Santos, da Escola de Música do Maranhão -, houve a execução de ladainhas compostas por Mohana, em flauta e violão.
O padre João Mohana marcou um capítulo inesquecível de minha vida, pois, no dia 31 de dezembro de 1973, foi ele quem celebrou meu casamento. Já são mais de 40 anos, contudo me lembro até hoje de sua homilia e de sua prédica sobre o compromisso, a união e o esforço pelo bem comum. Assim como eu, Mohana também era médico, mas, atendendo ao chamado de São Lucas, preferiu curar almas feridas e corações desesperançados com o bálsamo da palavra eterna. A medicina perdeu um profissional dedicado, todavia os templos, as bibliotecas e os corações ganharam muito mais com a dedicação integral desse homem que se deixou ser instrumentalizado por Deus para o nobre serviço de sua causa.
Mohana jamais quis o holofote. Era homem de ação e fez questão de deixar isso claro várias vezes. Em entrevista publicada no Jornal do Dia (Porto Alegre, 25/10/55) e reproduzida por Arlete Nogueira da Cruz no Suplemento Cultural & Literário Jornal Pequeno Guesa Errante, Mohana rejeita qualquer rótulo de bondade e explica sua vocação: “Bom, só Deus e os gestos de Deus. Toda bondade sai dele e continua a depender dele, mesmo quando não nos transformamos em seu receptáculo. Não fui eu que o escolhi (se fosse, poderia sentir a vaidade de um palpite iluminado), foi Ele que me tirou da prateleira (foi quem me pôs lá também) e disse: vou encher de graças este vidro humano. Os outros ficaram na prateleira iguais a mim (o que não me envaidece) ou melhores do que eu (o que me humilha). Quantos não fariam melhor gestão com os dons que recebi para administrar”.
Autor de obras como “O outro caminho” (que recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras como o melhor romance publicado no Brasil, em 1952, o qual foi alvo de diversas traduções), “O mundo e eu”, “Sofrer e amar”, “Maria da tempestade”, “Plenitude humana”, “Paz pela Oração”, “A vida sexual dos solteiros e casados”, bem como de diversas outras obras, Mohana era escritor prolífico e perfeccionista. Chegou a rasgar livros inteiros e parte de alguns – agora famosos – por não os considerar como bons textos. Dedicou-se a escrever para casais e famílias como alguém que oferece um guia prático de condução para uma vida de alegria e vitória. Era amigo dos jovens, aos quais sempre prestava conselhos, e isso o fez seguir a máxima pregada por Chesterton, reescrita no seu famoso livro Ortodoxia: “O jovem moderno nunca mudará o ambiente. Ele sempre mudará a mente”.
Mohana também era um apaixonado inconteste por música: declarou diversas vezes que gostaria de ter tido seu trabalho de resgate de partituras musicais do século XVIII reconhecido pelo Maranhão. Amava e valorizava a arte, a poesia, a cultura e a pintura. Apóstolo do povo, nunca se distanciou do púlpito frio. Pelo contrário: amava a humanidade, imiscuía-se nela com o denodo de servir com seu talento e de seguir a lição do mestre, que comia com publicanos e pecadores.
Fundador da Juventude Universitária Autêntica Cristã (JUAC), Mohana fez discípulos em todas as camadas da sociedade, dando a si mesmo exemplos de humildade e abnegação. Nesse sentido, lembro o rabino Nilton Bonder, que, em seu livro “Sagrado”, apregoa: “Para ser rico um ser humano tem que sacrificar desejos e com isso perceber o sagrado”. Mohana viu o Sagrado e levou outros a vê-lo também. Com isso, enriqueceu corações, engordou almas, saciou ansiedades. Se, como disse Tucídides, “o segredo da felicidade é a liberdade. O segredo da liberdade é a coragem”, o Maranhão pode se orgulhar de seu nobre e corajoso cavaleiro do Evangelho: João Mohana, que conseguiu reunir em um único ser o sábio, o humanista, o psicólogo, o apóstolo e o médico.
Poderíamos dizer ainda que Mohana, seguindo o exemplo de Paulo, o apóstolo, pregou o amor, a misericórdia, a renúncia, a compaixão e o sofrimento. Na verdade, a sua própria vida é o que tinha menos importância, pois, no dizer paulino, registrado na Epístola aos Filipenses, “(…) viver é Cristo e o morrer é lucro”. Que a lembrança de teu nome jamais se apague, Mohana! E que as atuais e futuras gerações venham a saber que houve aqui, nesta terra, um homem santo entre nós.
O escritor maranhense João Mohana, nasceu no município de Bacabal em 1925 e morreu em 1995, aos 70 anos de idade.
Foi médico, depois padre católico e escritor.
Praticamente só escreveu livros doutrinários, voltados para o catolicismo.

Seus títulos:
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  • 1 - Descubra o Valor do Terço
  • 2 - A Cristo Por Paulo
  • 3 - A Grande Musica do Maranhão
  • 4 - A Oração de Cada Idade
  • 5 - A Vida Afetiva dos Que Não Se Casam
  • 6 - A Vida Sexual dos Solteiros e Casados
  • 7 - Abraão e Sara
  • 8 - Ajustamento Conjugal
  • 9 - Amor e Responsabilidade
  • 10 - Casar Para Crescer
  • 11 - Casulo de Pedra
  • 12 - Céu e Carne no Casamento
  • 13 - Como Ser Um Bom Pregador
  • 14 - Diga Não ao Imperialismo Cultural
  • 15 - Escolhidos de Deus
  • 16 - Espirito Santo de Todos
  • 17 - Espiritualidade e Teologia da libertação
  • 18 - Jesus Cristo Radiografado
  • 19 - Liberte Seu Filho da Insegurança
  • 20 - Maria da Tempestade
  • 21 - Namoro é Isto
  • 22 - Não Basta Amar Para Ser Feliz no Casamento
  • 23 - O Coração do Homem e o Coração de Cristo
  • 24 - O Cristão Desafiado
  • 25 - O Encontro: Os Mais Belos Encontros de Cristo
  • 26 - O Enviado - Cristologia II
  • 27 - O Marido de Conceição Saldanha
  • 28 - O Mundo e Eu
  • 29 - O Outro Caminho
  • 30 - Ore Com os Grandes Orantes
  • 31 - Os Perseguidos
  • 32 - Padres e Bispos Auto-Analizados
  • 33 - Paz Pela Oração
  • 34 - Plenitude Humana
  • 35 - Pobres e Ricos Perante Cristo no Brasil
  • 36 - Por Causa de Inês
  • 37 - Prepare Seus Filhos Para o Futuro
  • 38 - Sofrer e Amar
  • 39 - Teologia das Relações Humanas

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