quinta-feira, 20 de maio de 2021

A poesia segundo José Sarney

 

Meditação sobre o Bacanga

 

As águas passam

É lua e as casas aparecem.

Sou eu. Narciso que se olha

E fenece.

 

Tudo é sombra, sombra e nada,

água e silêncio nas folhas e vales

rompidos pelo Bacanga em sulcos

de madrugada.

Faixa de vento na montanha a encher e vazar:

címbalos onde o tédio geme.

 

É o gigante do não esquecer e as vozes do mangue.

Sangue correndo das imagens mordidas

pelos dentes estranguladores da noite.

 

Narciso se olha

Satanicamente o brilho dos olhares

buscam o que não existe mais.

 

Ele vivia além e tinha fome, mas pensava.

Comeu os pensamentos devorando os dias

o nome e a noite.

Doce rio que vem e bóia

na enseada.

Águas barrentas, sujas,

Liberdade que morreu

e se afoga

no Mar.

 

Medito sobre mim que já sou morto:

as canções fúnebres que me pesam

como pedras no vazio do

lembrar.

 

- Barquinho de vela

que vai sobre o mar.

Boneca amarela

que me vem roubar.

 

Meus olhos fenecem e o presságio dorme

no espelho das águas que

escorrem.  

                                       

José Sarney é um poeta, escritor e advogado maranhense.

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