sexta-feira, 4 de junho de 2021

A poesia segundo Pablo Neruda

 

Tenho fome de tua boca 

 

Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pêlo
e por estas ruas me vou sem alimento, calado,
não me nutri o pão, a aurora me altera,
busco o som líquido de teus pés neste dia.

Estou faminto de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso silo,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer teu pé como uma intacta amêndoa.

Quero comer o raio queimado em tua formosura,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de tuas sobrancelhas.

E faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
buscando-te, buscando teu coração quente
como uma puma na solidão de Quitratúe.

 

O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura (1971), é conhecido internacionalmente pelos seus versos apaixonados.

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