domingo, 10 de outubro de 2021

Radiografia da Fome no Brasil

 

"Horrível. É muito ruim. Muito ruim mesmo". As palavras pertencem a Francielle de Santana, ela faz parte de uma das cerca de duas mil famílias que se estima viverem em Jardim Gramacho, uma favela de Duque de Caxias, no Brasil, onde a fome nos mostra um reflexo impressionante da gravidade da situação na maior economia da América do Sul.

Há uma semana, uma reportagem do jornal "Extra", da "Globo", impressionou pelas fotos de pessoas a garimpar num camião com restos de carcaças de animais.

As imagens, impressionantes, faziam parte de uma reportagem onde se dava destaque à gravidade dos números da pobreza no Brasil após a Covid-19: 116,8 milhões de pessoas sem acesso pleno e permanente a alimentos; 19,1 milhões passando fome.

O confinamento após a entrada do SARS-CoV-2 no Brasil, estancou inclusive a economia informal e "fechou a torneira" do rendimento de muitas famílias já então pobres.

Ao lado da filha Marcela, de oito anos, Francielle explica: "Muita gente está passando necessidade e fome porque não tem dinheiro para comer. O arroz era três, agora está mais caro", disse a desempregada, uma das pessoas que integram agora o grupo de 14,1% de brasileiros sem trabalho.

Com o Brasil também sofrendo com uma inflação de 10,1% no acumulado de 12 meses, como é sublinhado na reportagem do "Extra", é preciso criatividade para colocar comida na mesa.

Na casa de Francielle a carne ainda chega ao prato, mas agora "é mais frango". "[Ainda] é carne, mas é frango, que está aumentando o preço também. “Com 10 reais a gente comprava muita coisa, agora vêm 3 ou 4 pedaços de frango”. Para 3 ou 4 pessoas é pouco. Compra 10 na hora do almoço, tem de comprar 10 na hora da janta e vai indo", lamenta a desempregada.

Francielle ainda tem gás no botijão e utiliza-o, mas conta-nos não ter dinheiro para comprar mais. Sobretudo depois dos botijões de gás também terem aumentado. A solução, confia, está em vasculhar o lixo em busca de materiais recicláveis que se consiga vender para juntar dinheiro e comprar um botijão de gás.

Se a pobreza em Jardim Gramacho já era preocupante, agora com a Covid-19 ficou ainda pior nesse antigo depósito de lixo, que chegou a ser considerado como a maior lixeira a céu aberto da América Latina.

Agora, está favela de Duque de Caxias que fica apenas 30 quilômetros da famosa Ipanema é residência de milhares de pessoas como muitas outras favelas do Brasil. Sem água canalizada nem eletricidade e onde até os botijões de gás já não são usados como antes.

Leide Laurentino, por exemplo, tenta poupar o pouco gás que tem para algum momento de maior necessidade.

"Estou economizando para não acabar. Se for cozinhar só no gás, não vai dar. Hoje até o café eu fervi com lenha", contou a aposentada, de 74 anos, acompanhada pela neta Eloá.

Ao jornal “Extra”,, Daniel Balaban, representante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos e Diretor do Centro de Excelência contra a Fome, avisa que "se nada for feito", a situação "vai piorar cada vez mais".

"Não existe milagre, só vai melhorar se houver um trabalho forte e coletivo dos governos. Esse tema precisa entrar na pauta e no debate público. A curto e médio prazo, o país não vislumbra saída para o caos econômico que se encontra atualmente e o Rio reflete muito o que está acontecendo no país", sublinhou.

Daniel Balaban disse ainda que o Brasil desperdiça, em média, por ano, 26 milhões de toneladas de alimentos durante a cadeia de produção, transporte e comercialização. Essa quantidade, acrescentou, seria suficiente para alimentar toda a população necessitada do país e mais metade da população da África.

Em termos financeiros, esse desperdício do Brasil representa um prejuízo de cerca de 100 mil milhões de reais). Com euronews

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