quinta-feira, 26 de março de 2009

Duas mulheres perdidas numa parada de ônibus



Duas mulheres, uma jovem e bonita, a outra já com a idade bastante avançada, estão numa parada de ônibus. A jovem consciente da sua beleza e formosura, do alto da sua plataforma, olha o mundo de cima para baixo, como quem se sente superior a tudo e a todos.

Aquela senhora, como que envergonhada porque a sua pele não ter mais o viço da juventude, parece querer sucumbir ante aquela beleza que lhe incomoda tanto, que lhe faz sentir vergonha por ter envelhecido. Ela olha timidamente para aquela jovem, como se tivesse medo da sua própria imagem e volta a se refugiar no seu próprio eu.

A mulher com idade já bastante avançada, que permanece todo tempo, encostada no muro de arrimo, próximo a parada, olha sempre de soslaio para aquela jovem bonita, como quem tenta adivinhar o que o futuro reserva para aquela mulher que consciente da sua beleza, nunca pensou um momento sequer da sua ainda curta vida, na possibilidade de vir a envelhecer.

São dois mundos, representados pela juventude de uma e pela velhice da outra.

Naquele curto espaço de tempo que me demorei a observar aquelas duas mulheres, percebi o quanto a vida e a juventude são ilusórias e o que a velhice pode fazer com um rosto outrora jovem, cheio de vida e com muita vitalidade.

A vaidade feminina, na nossa cultura, faz com que a vida seja resumida apenas à juventude. E é isso que faz com que mulheres valorizem tanto a juventude e a beleza, de modo a que acabam esquecendo que existe vida depois da juventude. O que mais se vê hoje em dia são mulheres com uma certa idade, querendo a todo custo driblar a velhice, o que nem sempre conseguem, e por insistirem na obsessão pela eterna juventude, acabam caindo no ridículo.

Veio à condução e coincidentemente, ambas as mulheres tomaram o mesmo ônibus, mas cada qual no seu mundo particular: a mulher jovem movida pela vaidade própria da juventude e a senhora querendo entender o que se passa na cabeça da juventude.

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