A poucos dias do depoimento à CPI dos Grampos, marcado para a próxima quarta (8), Protógenes Queiroz trocou a rotina de policial pela articulação política.
Num instante em que a Polícia Federal o acusa de ter cometido ilegalidades na Operação Satiagraha, o delegado aproxima-se da oposição.
Longe dos holofotes, Protógenes conversou, diretamente e por meio de intermediários, com deputados do PSDB e do PPS.
Embora disponha de salvo-conduto do STF para se manter calado na CPI, o ex-mandachuva da Satiagraha revelou a disposição de falar.
Em privado, disse que, se inquirido, fornecerá à CPI o caminho das pedras que levam às malfeitorias de Daniel Dantas.
Informou que, diante das perguntas certas, não se furtará a discorrer também sobre episódios que, a seu juízo, deixam mal o governo Lula.
Mencionou especificamente as negociações que levaram Lula a assinar o decreto que autorizou a fusão das telefônicas Oi e Brasil Telecom.
Insinuou que o professor Roberto Mangabeira Unger não virou ministro de Lula por acaso.
Discorreu sobre os serviços que Mangabeira prestara ao Opportunity de Daniel Dantas.
Repisou a tecla de que o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), também a serviço do Opportunity, fez lobby no governo em favor da “BrOi”.
Disse que a junção das duas telefônicas é um tema pendente de investigação.
Nos textos da Satiagraha, já recomendara a abertura de um inquérito específico para iluminar os meandros da fusão.
Nos contatos que manteve abaixo da linha d’água, Protógenes se disse “perseguido” pela cúpula da PF, hoje comandada pelo diretor-geral Luiz Fernando Corrêa.
De resto, Protógenes disse que personagens da cúpula do governo desenvolveram uma aversão pessoal a ele.
Mencionou o ministro Tarso Genro (Justiça) e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, que teve a voz captada por um dos grampos da Satiagraha.
Afirmou ter sido informado de que o governo considerou que ele se excedeu ao monitorar o gabinete da presidência da República.
Defendeu-se dizendo que não era sua intenção investigar Gilberto Carvalho. Alegou que o auxiliar de Lula desceu ao inquérito por acaso.
Segundo Protógenes, a voz de Gilberto Carvalho só foi interceptada porque ele atendeu a telefonema de Greenhalgh, esse sim um “alvo” da investigação.
O delegado esmiuçou o drama que vivencia. Disse que a “perseguição” do governo já não se restringe a ele.
Contou que, dias atrás, sua mulher foi demitida do Dnit, um órgão que pende do organograma do ministério dos Transportes.
A incursão de Protógenes pelos subterrâneos da política talvez não alivie a carga que se arma contra ele na CPI.
Protógenes enfrentará inquisidores que desejam o seu escalpo. Entre eles o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), um delegado licenciado da PF.
Mas os oposicionistas que o ouviram ficaram com a impressão de que será um mal negócio limitar a inquirição às supostas transgressões cometidas por Protógenes.
Eis o que disse ao repórter um dos interlocutores do delegado: “É claro que a gente tem que investigar os erros do inquérito...”
“...Mas é preciso despersonalizar. O problema está na estrutura de investigação do Estado brasileiro...”
“...Não vale a pena demonizar ou contribuir para a santificação do Protógenes”.
Um pedaço da bancada de oposição vai à sessão da próxima semana com a disposição de calibrar o timbre da inquirição à desenvoltura da língua de Protógenes.
Nesta quinta (2), o delegado participou, no Rio, de um ato político convocado pelo PSOL. Um protesto contra a política econômica de Lula e a favor do emprego.
Caminhou ao lado da presidenciável Heloísa Helena (foto la no alto). A certa altura, perguntou-se a Protógenes se planeja concorrer a um mandato nas eleições de 2010.
E ele: "Eu gosto é de ser delegado da Polícia Federal. Mas há um clamor público para uma possível candidatura. Por enquanto, permaneço delegado da Polícia Federal".
Como que pressentindo o futuro acerbo que o aguarda na PF, o delegado flerta definitivamente com a carreira política.
Na manifestação do Rio, Protógenes permitiu-se escalar um carro de som. Discursou sob atmosfera de campanha. Foi apresentado como "delegado do povo".
O delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, no momento atual, encarna um sentimento de revolta - que uma parte expressiva da sociedade brasileira experimenta pelo governo Lula e uma turma que considera o nosso país, uma Casa Grande, onde existe um Senzala. (DS)
(blog do Josias de Souza)
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