quarta-feira, 3 de junho de 2009

A CNBB e os seus articulistas

Filosofando sobre o dinheiro

por Dom Cristiano Jakob Krapf

Não podeis servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro. Quando Jesus falou assim, o dinheiro ainda era uma coisa sem maior importância na vida. Agora, dois mil anos depois, é o dinheiro que governa o mundo e domina as preocupações da maioria das pessoas, dos ricos e dos pobres.

Os economistas apresentam teorias complicadas e chegam a falar uma língua que outros não entendam, o economês. Para simplificar, podemos considerar o dinheiro como mercadoria sujeita à lei de procura e oferta. Existem dois tipos dessa mercadoria: dinheiro em moeda, e capital financeiro. Ambos teem dois tipos de preço ou valor: o seu poder de compra de outras mercadorias e moedas, e a taxa de juros que seus donos conseguem para alugá-lo, para emprestá-lo. Os bancos são os intermediários entre pessoas que teem dinheiro a emprestar e pessoas que precisam dele. Assim como outros negociantes, bancos querem comprar barato e vender caro. O Governo protege o monopólio dos bancos no comércio de dinheiro e limita com regulamentos complicados a concorrência entre eles. O poder dos bancos na defesa dos lucros do capital

A margem de lucro dos bancos depende da diferença entre os juros que pagam e os juros que recebem. No Brasil, os bancos e outros donos do capital financeiro ficaram mal acostumados com os lucros garantidos e fáceis que recebiam pela taxa muito alta dos juros sobre a dívida pública interna.
Não conseguindo impedir a redução da taxa básica de juros no mês passado que diminuiu para 3% a diferença entre os juros que os bancos pagam pela caderneta de poupança e os juros que recebem pelo dinheiro aplicado em títulos da dívida pública, os bancos passaram a fazer pressão para reduzir os juros da caderneta de poupança e manter assim a sua margem de lucro nesse negócio. Esta semana, tentando prevenir-se contra dificuldades na rolagem da dívida, o Governo acrescentou mais um remendo na colcha de retalhos dos regulamentos da política econômica.

Falta ainda a aprovação do Congresso. Se a proposta de mexida na poupança não for aprovada, o Banco Central vai alegar que não pode mais reduzir os juros para não despertar o dragão da inflação. Se for aprovada, ainda vai alegar que este ano não pode diminuir os juros porque as mudanças só vão entrar em vigor no ano que vem.

Na realidade, os títulos da dívida pública ficaram menos atraentes porque os bancos conseguem aplicar o capital financeiro com juros muito maiores em outros setores. Por que contentar-se com juros de 10%, se conseguem uma média de mais que 30% em outras aplicações, e até mais que 100% em algumas? Colocam na balança apenas o tamanho dos juros e o tamanho dos riscos e das despesas com a cobrança.

Quanto aos títulos da dívida pública, são repassados pelos bancos aos aplicadores em fundos de investimentos, com cobrança de taxas de administração.
Economistas alegam a necessidade de uma taxa básica de juros bem acima dos juros da caderneta de poupança para evitar problemas com a rolagem da dívida pública. Não entendo como não percebem que o Brasil precisa aprender a separar as duas coisas. A caderneta de poupança precisa ter juros suficientes acima da inflação para oferecer atrativos aos poupadores. O resto é conversa fiada dos defensores dos lucros exorbitantes dos bancos.

O problema da dívida pública não pode ser resolvido pela continuação de uma taxa básica de juros muito alta que só faz a dívida crescer às custas do povo. Será necessário que um leigo no assunto venha ensinar aos doutores em economia que existe outro caminho? Por que não acelerar a economia com metas dinâmicas de crescimento, em vez de continuar a pisar no freio com metas acanhadas de inflação?

Falta ao governo a coragem de abandonar a política econômica de aperto monetário que garante os juros elevados que os bancos e outros donos do capital conseguem cobrar para emprestar seu dinheiro. Sempre alegam o perigo do fantasma da inflação, da desvalorização do dinheiro, e dizem que os mais prejudicados por um pouco mais de inflação seriam os pobres. Na realidade, a inflação afeta mais os ricos, corroendo o valor do seu capital. Os trabalhadores teem no reajuste dos salários o remédio contra a desvalorização do dinheiro. Não vou aqui discutir as vantagens e desvantagens da desvalorização do Real na crise atual, mas não tenho dúvida que uma diminuição do valor irreal do Real era necessária para devolver ao Brasil a possibilidade de competir melhor no comércio mundial e fortalecer a nossa indústria e agricultura para diminuir o desemprego.

As últimas notícias estão confirmando a corrida do capital especulativo para uma temporada de engorda no Brasil, tendência que já apontei no mês passado. Neste mês de maio já chegaram dois bilhões de dólares, e a cotação do Real subiu 7% em relação ao dólar. São novidades boas, numa visão imediatista. Mas ninguém leva lucros sem ter alguém que pague. A conta será paga por nós mais tarde.

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