sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Presidente do BCE diz que é cedo para falar em final de crise


Frankfurt (Alemanha), 20 nov (EFE).- O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse nesta sexta-feira que "é cedo demais para afirmar que a crise acabou" e deixou escapar que a entidade manterá os juros em 1% por um tempo.
Durante o Congresso Europeu de Bancos, Trichet falou que, embora os últimos acontecimentos tenham sido bons, "um volume significativo de apoio do Governo" está por trás deles.

No entanto, o presidente do BCE disse entender "que o sentimento no sistema financeiro é de alívio".

Trichet previu que a entidade não aumentará as taxas de juros imediatamente para evitar uma alta de preços de ativos e o surgimento de novas bolhas especulativas ao insistir que o BCE deve retirar a liquidez extraordinária que está por trás da crise para enfrentar a inflação.

Com relação às taxas de juros, o banqueiro francês afirmou que a postura de "esperar e ver" como será a repercussão da elevação dos preços dos ativos que os bancos centrais adotaram no passado têm "limitações" e "riscos de criar um perigo moral".
"É necessário uma aproximação mais simétrica", que evite a aparição de altas de preços de ativos e controle as consequências da explosão dos preços de ativos, sugeriu Trichet.

O presidente explicou que os Governos da zona do euro destinaram 26% do Produto Interno Bruto (PIB) para apoiar o setor financeiro por meio de garantias, injeções de capital e apoio a ativos.

Além disso, a quantidade de refinanciamento proporcionada pelo BCE é quase 60% maior à existente antes das turbulências nos mercados financeiros.

Isto reflete "a necessidade que o BCE tem de interferir no mercado".

Trichet lembrou que "as autoridades podem proporcionar apoio temporário considerável, mas, em uma economia de mercado, não se pode dirigir o setor financeiro ou dar apoio excepcional por tempo indeterminado".

O presidente do BCE foi metafórico ao explicar como se deve cuidar da saúde do sistema financeiro.

"Primeiro, quando o paciente fica seriamente doente, se faz necessária medicação de urgência. O contágio deve ser evitado", disse Trichet.

Assim, da mesma forma, "uma crise financeira global de grande magnitude exige uma ação política rápida e decisiva, possivelmente de uma natureza sem precedentes", segundo o presidente do BCE.

"Segundo a experiência médica nos diz que, com o tempo, a administração contínua de analgésicos pode ser nociva já que pode criar dependência ou, inclusive, dependência, para os receptores", acrescentou.

Esse tipo de conduta não pode ser uma solução permanente porque criaria novos problemas, conforme Trichet.

Advertiu que "por analogia, o apoio excepcional proporcionado por bancos centrais ao setor privado não deve degenerar em uma dependência de longo prazo ao setor privado dessa ajuda".

"O apoio ao crédito não é para a eternidade", disse Trichet, que exortou às instituições financeiras a prepararem a retirada, que deve ser "gradual e oportuna".
Com relação à base para parar com as medidas extraordinárias aplicadas na crise, Trichet disse que é totalmente inversa à base adotada na implementação.

Trichet reiterou que nem todas as medidas de injeção de liquidez serão necessárias da mesma medida que no passado, por isso é preciso assegurar que a liquidez seja absorvida para resistir eficazmente a qualquer ameaça à estabilidade de preços no médio e no longo prazo.

Trichet já indicou que o BCE vai interromper as injeções de liquidez durante um ano após o leilão que será realizado em meados de dezembro.
"Terceiro, sabemos que a prevenção é o melhor remédio. A medicina preventiva reduz o risco do reaparecimento futuro da doença". (EFE)

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