A popularidade do economista Nouriel Roubini costuma variar na razão inversa da situação económica mundial. Em momentos de euforia, o professor da Universidade de Nova Iorque tende a ser visto como um pessimista e um “arauto da desgraça”. Mas quando as crises previstas por ele se materializam sucede o contrário. A sua fama atingiu o auge em 2008, quando o banco americano Lehman Brothers faliu. Nessa altura, Roubini, que havia previsto o colapso, tornou-se um economista popstar. Agora, em plena crise do euro, as palavras de Roubini, um velho crítico da união monetária europeia, voltam a ouvir-se. Para ele, a endividada Grécia é apenas a ponta do icebergue. “Os problemas que abalam os gregos podem ser encontrados nas grandes potências como Estados Unidos, Japão e Reino Unido. As finanças dos governos desses países são um castelo de cartas prestes a desabar”, vaticina.
No dia 10 de Maio, as Bolsas mundiais
recuperaram logo após o anúncio do plano de resgate europeu. Mas algum tempo depois, o pessimismo voltou.
Qual é afinal o problema da Europa?
O dinheiro não chega para resolver o problema europeu. Os países do Sul da Europa estão endividados de mais. A solução proposta no pacote obriga-os a um longo período de cortes draconianos e de recessão. Isso só vai deixá-los ainda mais longe de atingir as metas de redução da dívida. A Grécia sairá da recessão com uma dívida ainda maior. A União Europeia (UE) quer levar a cabo uma missão impossível, politicamente inviável. Por isso é que os mercados reagiram mal: se 1 bilião de dólares não resolve o problema, é sinal de que se trata de algo realmente complicado.
Mas haveria uma solução melhor?
A Grécia vai acabar por ter de reestruturar a sua dívida e pode ser forçada a deixar a zona euro. Os gregos deviam assumir que não vão conseguir pagar a dívida. Isso pode ser feito de maneira ordenada, como sucedeu com o Uruguai em 2003. A minha expectativa é que, daqui a 6 ou 12 meses, eles vão perceber que é impossível continuar. Os eleitores alemães também entenderão que não faz sentido gastar 140 mil milhões de dólares para prevenir o que não é possível prevenir. Quanto mais organizado for esse processo, melhor. A Argentina arrastou o problema até que se viu forçada a assumir a insolvência de forma caótica em 2001.
O euro perdeu quase 15% do valor face ao dólar. Ainda há esperança de que o euro venha a ser uma alternativa como moeda de reserva mundial?
A verdade é que o euro sai ferido desta crise, que ainda não acabou. Até os alemães estão nervosos com a moeda única. Uma moeda de reserva não pode estar sujeita a riscos de liquidez ou de crédito como os que sucederam com países-membros à beira da insolvência. O euro deixou de ser um porto seguro. Os investidores perceberam que, da maneira como a UE está organizada hoje, o euro não tem condições de ser uma moeda de reserva.
Escreveu que a dinâmica da dívida mundial faz recordar o esquema Ponzi, usado por Bernard Madoff. Porquê?
Esta crise começou com a acumulação de dívida no sector privado e uma bolha imobiliária nos Estados Unidos, Reino Unido e Espanha, que levou ao colapso do sistema financeiro. Os governos dos países ricos assumiram os prejuízos resgatando bancos e empresas falidas. E, para amenizar a recessão, começaram a gastar o dinheiro público. O resultado disso foi a multiplicação de governos insolventes. Agora, os países mais fortes e as instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a UE estão a repetir o cenário anterior e a resgatar as nações com problemas. Mas a pergunta que fica é: quem vai resgatar a UE e o FMI? Esse é o dilema.
Na próxima década, estima-se que os Estados Unidos terão um défice de 9 biliões de dólares,
o que é um novo recorde. A situação
é sustentável?
A Grécia é apenas a ponta do icebergue. A situação americana não é sustentável e há problemas semelhantes no Reino Unido e no Japão. Os países com problemas têm três opções. A primeira, é não pagar a dívida. A segunda, é pôr as gráficas e imprimir dinheiro, criando inflação. A terceira, é cortar gastos, aumentar impostos e colocar a casa em ordem. O problema é que os democratas são contra qualquer corte de gastos; os republicanos são contra qualquer aumento de impostos. Se não se fizer nada, os Estados Unidos podem tornar-se uma Grécia.
Países como China e Brasil têm,
hoje, um problema fiscal bem
menor. Eles podem sair mais
fortes da crise?
Os emergentes aprenderam com as crises anteriores. O Brasil, por exemplo, teve superávites consecutivos e diminuiu fortemente a sua dívida externa. O importante, no entanto, é manter a disciplina. A economia mundial vai continuar volátil. Os riscos ainda são grandes nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Logo, os países emergentes devem manter a prudência.
O que é que os investidores devem fazer nos momentos como este?
Com o risco de uma nova recessão na Europa, o crescimento anémico no Japão, a lentidão da retoma americana e a desaceleração do crescimento na China, a queda pode ser muito grande. O lucro das empresas vai diminuir, o que será negativo para o mercado de acções. A desaceleração chinesa também vai empurrar o preço das commodities para baixo. Já tivemos uma
correcção de 10% nas Bolsas, e espero que chegue a 20% nos próximos meses. O momento, portanto, pede cautela.(Exame Angola)
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