domingo, 10 de abril de 2011

Você já ouviu falar de "CouchSurfing" ou surfe de sofá?

por Teresa Dias
 
Já imaginou hospedar em casa alguém que você nunca viu antes, vindo de um local distante cujos costumes podem ser bem diferentes? Ou então ser você o hóspede, nessas mesmas condições? A premissa, que à primeira vista parece loucura, é justamente a proposta de uma das redes on-line mais inovadoras do mundo, o “CouchSurfing” — CS para os íntimos — que já reúne mais de 2,6 milhões de cadastrados. O “surfe de sofá” (no original em inglês) congrega pessoas do mundo todo a promover, além da hospedagem gratuita, a troca cultural e o nascimento de amizades.

Como? Você faz um perfil no site, onde coloca suas informações. Então, oferece seu sofá para um viajante, ou pede que algum lhe seja emprestado. Simples assim. Não há fronteiras no CouchSurfing: é possível interagir com pessoas de qualquer lugar do mundo. O sistema é baseado na confiança. 

Referências positivas ou negativas são postadas nas páginas dos viajantes e hospedadores, que não podem alterá-las.

A febre chegou ao Maranhão, e já conta com mais de 100 participantes na capital. A estudante Maria Fernanda Souza, 19 anos, entrou na rede ano passado.  “O CS é interessante porque você trata um estranho como se fosse da família e isso é muito legal. Acho que é uma experiência que desenvolve a tolerância das pessoas, qualidade que anda faltando por aí”, afirma. O primeiro recebido em sua casa foi um jornalista holandês de 25 anos. De lá para cá, já cedeu um “cantinho” para um francês, uma alemã e dois poloneses. No último final de semana, a visitante da vez foi a inglesa Gabriela Oliva, 18 anos. “Como São Luís estava no caminho da minha viagem, decidi conhecer também”. Ela conta que a descrição do bumba-meu-boi, que viu no guia turístico, foi uma das coisas que mais lhe chamaram a atenção. Infelizmente, porém, não pôde ver a manifestação cultural. “Não sabia que só acontecia em uma temporada específica”, lamentou.

Em São Luís, Gaby, como gosta de ser chamada, conheceu o Centro Histórico, as praias (onde estranhou os carros ficarem na areia), vários restaurantes e foi ao show de Nando Reis, que adorou. Sua anfitriã ainda a levou para assistir as aulas de espanhol e teatro que frequenta, assim como para visitar a universidade em que estuda. 

Gaby já havia antes passado por Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Natal e Fortaleza. A próxima parada é Belém. Para financiar a aventura, que deverá durar seis meses, Gaby usa o dinheiro que ganhou trabalhando como garçonete nos últimos meses, juntamente com a herança que um tio deixou. No próximo semestre, ela voltará para a Inglaterra e sairá de sua cidade natal, Bournemouth, para cursar faculdade de Psicologia em Bristol.

Nas andanças pelo Brasil, Gaby já acumulou histórias boas e ruins. Afirma que São Paulo, onde também teve estadia como couchsurfer, foi o melhor local até agora. “Fiz vários amigos e me diverti muito, nós saíamos à noite para lugares ótimos”. Já na Cidade Maravilhosa, a inglesa teve menos sorte: foi assaltada duas vezes. “Mas a culpa foi minha, eu que não tive cuidado e andei por lugares perigosos”, garante. 

O calor do Nordeste pegou a estrangeira de surpresa. “Eu nunca suo na Inglaterra! Em São Luís, é o tempo todo. Mas já estou me acostumando”. Ela também diz que não imaginava que o Brasil pudesse ser tão grande. “Na Europa, em duas horas você vai de um país a outro, enquanto que aqui, você pode precisar de dez horas para chegar a outra cidade!”. E o que ela achou dos garotos brasileiros? Segundo Gaby, eles são pródigos no uso da lábia. “Os brasileiros não tem problema em dizer ‘Oh, você é a menina mais bonita que eu já vi na minha vida’ ou ‘Apaixonei-me à primeira vista’ para chegar numa garota”, diverte-se.

Após a temporada de hospedagem, a internet torna-se o meio mais usado para manter o contato. Maria Fernanda diz que usa redes sociais para falar com os couchsurfers. “Parece que fica sempre aquele sentimento de profunda gratidão da pessoa que você hospedou. É bom poder fazer outras pessoas se sentirem bem-vindas”.

“Couch-chatos”

O jornalista Adriano Rodrigues, 33 anos, é um dos maiores entusiastas do CS no Maranhão. Ele é um dos moderadores da comunidade de São Luís no site, e está sempre envolvido nos eventos locais do programa. “Inicialmente, o que me fascinou foi a ideia de praticar com os nativos do idioma ao vivo. Com o tempo, aprendi que o CouchSurfing é muito mais amplo do que os idiomas que envolve”, conta ele, que foi apresentado à rede por um amigo dos tempos de colégio.

Adriano perdeu a audição há 10 meses, e ainda não aprendeu a linguagem das Libras e nem leitura labial. Consegue falar normalmente, mas a comunicação acontece por escrito: as pessoas escrevem e ele responde. “Nunca tive problemas com isso. Claro que os problemas fazem parte da minha condição de deficiente, mas como é um projeto multicultural, que abrange a diversidade, o CS é, por natureza, um ambiente em que predomina a tolerância à diferença”, afirma. Nas referências escritas por amigos em seu perfil, ele é descrito como uma pessoa atenciosa e alegre, que nunca deixa a deficiência ou outra situação difícil o colocar para baixo.

À maneira dos engajados na defesa do meio ambiente, chamados de “ecochatos”, Adriano se rotula como um “couch-chato”, por pregar o respeito fiel aos princípios do CouchSurfing. Ele, que já convenceu um amigo de Brasília a embarcar na rede, quer que seus conterrâneos sejam mais empolgados com a ideia.  “Tenho tentado fazer com que a comunidade local seja mais movimentada”, diz. “Infelizmente, não nos encontramos com a frequencia que gostaríamos. 

Entretanto, sazonalmente, quando coincidentemente diversos couchsurfers estão em São Luis, tentamos nos reunir para dar boas vindas aos visitantes. Disso surgem passeios, encontros posteriores, enfim, interação”.

O jornalista define o CouchSurfing como um curso intensivo de imersão cultural, que ainda tem a vantagem de ser gratuito e trazer amigos de brinde. “No CS, a cultura e os costumes estão em sua forma pura. É uma volta ao mundo, sem filtros”. ( O Impracial)

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