por Luara Macedo*
No dia 9 de novembro, o poeta, letrista, ator, jornalista e cineasta Torquato Neto completaria 67 anos de vida.Torquato Neto Morreu aos 32, no dia 10 de novembro de 1972. Ao longo da sua breve vida foi um ser da práxis (no sentido marxista), daí seu engajamento e luta nas questões de cunho social.*
“O meu nome é Torquato
O do meu pai é Heli
O da minha mãe Salomé
E o resto ainda vem por aí”
(Primeiro poema de Torquato Neto, feito aos 9 anos de idade, em Teresina, 1953 - dedicado aos pais)
O do meu pai é Heli
O da minha mãe Salomé
E o resto ainda vem por aí”
(Primeiro poema de Torquato Neto, feito aos 9 anos de idade, em Teresina, 1953 - dedicado aos pais)
Na minha infância, os nomes do poema acima, Torquato / Heli / Salomé, eram corriqueiramente citados lá em casa pelos meus pais e, especialmente, por meu irmão Ademir, que era coleguinha de infância do Torquato. Ambos tinham praticamente a mesma idade, sendo Torquato um ano mais novo.
Eram vizinhos porta com porta (como se diz aqui no nordeste), na Rua São João, parceiros nos estudos (sentavam lado a lado) e nas brincadeiras de rua. Mas a convivência durou pouco, já que nosso pai, funcionário do Banco do Brasil, foi transferido para a cidade de Campina Grande (PB), e Torquato embarcava para estudar na Bahia.
À época eu tinha apenas dois anos; portanto não sou personagem desta história, mas de tanto ouvir, principalmente, minha mãe Aracy contar passagens desta época, ela ficou registrada na minha memória afetiva.
Alertada pela amiga Edna Nascimento da proximidade do aniversário de 67 anos de nascimento de Torquato Neto, presto minha singela homenagem a este artista que tanto contribuiu para as artes brasileiras. Nela pinçarei alguns dados biográficos/artísticos, dando ênfase à veia musical.
Primeiro voo
No primeiro voo, aterrissou na Bahia para estudar no Colégio dos Maristas e lá conheceu Gilberto Gil. Passava a maior parte das aulas rabiscando poemas. Não demorou já estava colaborando com o jornalzinho da escola. Eclodia dentro de si uma das suas grandes paixões – o cinema -, passando a assistir e ler tudo relacionado à sétima arte.
O ponto de convergência das atividades culturais era o Centro de Cultura Popular da UNE (União Nacional dos Estudantes), e foi lá que conheceu, também, Caetano Veloso, Duda Machado, Gal Costa, Capinam, Maria Bethânia e outros.
“A gente era vidrado em cinema. Falava-se nisso de manhã, de tarde, de noite. Nessa época Glauber Rocha, era por volta de 60, começou na Bahia o movimento cinema novo (...)”. (Torquato em entrevista ao jornalista Menezes y Morais).
Segundo voo
Dois anos depois (1962), o segundo voo, rumo à Cidade Maravilhosa. Lá termina o científico e, por dois anos, cursa jornalismo na Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil.
Ainda no Rio de Janeiro foi apresentado a Edu Lobo, pelo cineasta Rui
Guerra, engendrando de imediato uma parceria musical que, apesar de curta, foi
marcante para ambos.
Edu Lobo fala da parceria:
“Trabalhamos durante três meses, foi quando fizemos ‘Veleiro’, ‘Lua Nova’ e ‘Pra dizer adeus’, que considero uma das minhas três melhores músicas, ainda que só três anos depois fossem estourar”.
Além de Edu Lobo, Torquato Neto compôs com grandes nomes da música brasileira, como: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Carlos Pinto, Jards Macalé, Geraldo Vandré, Roberto Menescal, Luiz Melodia, Machado Jr., João Bosco, Geraldo Brito, Feliciano Bezerra, Renato Piau e Edvaldo Nascimento. Muitos artistas, até hoje, musicam seus poemas.
Citando alguns dos muitos intérpretes torquatianos: Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Jair Rodrigues, Lena Rios (Barradinha), Jards Macalé, Ana Miranda, Nana Caymmi, Cláudia Simone, Laurenice França, Olívia Hime, Rubens Lima, Machado Jr., Fátima Lima, Silizinho, Geraldo Brito, Feliciano Bezerra, Roraima, Edvaldo Nascimento e os Titãs.
Terceiro voo
O terceiro voo, sob a influência do parceiro Edu Lobo, foi para São Paulo, o que ocorreu em 1966. Nessa época, Gilberto Gil morava em Sampa, no bairro de Cidade Vargas, extremo sul da cidade, tendo o hábito e, acredito eu, o prazer de hospedar os amigos, a exemplo de Torquato Neto, Capinam, Geraldo Vandré e Rui Guerra. O certo é que a casa de Gil foi batizada de “Pensão dos Baianos”.
Um ano depois, em 1967, Torquato Neto decide casar-se com a baiana Ana Maria dos Santos e Silva. Três anos depois nascia seu único filho Thiago, atualmente piloto da aviação civil.
Ronaldo Bôscoli relata a cerimônia:
“Torquato casou numa igreja linda e antiga. Lembro-me que cheguei cedo demais. O casamento foi tão careta que a noiva – como manda o figurino – chegou mesmo. (...) Por pouco o casamento não vira uma grande festa tropicalista. (...) O padre estava nervoso: ia celebrar o casamento de Torquato Neto, o mais ativo letrista do chamado grupo baiano, e tinha medo de que, na Hora H, começassem a aparecer violões no altar” (...).
O quarto voo
O quarto voo de Torquato Neto aconteceu um ano após seu casamento (1968), e até 1969 percorreu a Europa e os Estados Unidos por conta de uma bolsa de estudos com que fora contemplado, para escrever sobre “As influências africanas na música popular brasileira”.
O casal, acompanhado pelo artista e amigo Hélio Oiticica, embarcou uma semana antes do famigerado Ato Institucional nº 5.
No retorno ao Brasil, a relação com os baianos fica, digamos, estremecida, e ele vem a Teresina objetivando “recrutar” alguns artistas/amigos da terra visando à formação de um grupo de trabalho no Rio de Janeiro. Não logrou muito progresso na empreitada e, no retorno ao Rio, alia-se a Waly Salomão, Vinícius Cantuária e Luís Moreno e elege como nova intérprete a cantora piauiense Lena Rios, a Barradinha.
Torquato, porém, não consegue esquecer os baianos, e sua paixão pelo cinema sempre estava a aflorar.
O cinema exerce um fascínio terrível sobre o poeta: "As letras dele são, na realidade, roteiros cinematográficos", afirma o jornalista, escritor e filólogo Paulo José Cunha, primo de Torquato.
Edu Lobo fala da parceria:
“Trabalhamos durante três meses, foi quando fizemos ‘Veleiro’, ‘Lua Nova’ e ‘Pra dizer adeus’, que considero uma das minhas três melhores músicas, ainda que só três anos depois fossem estourar”.
Além de Edu Lobo, Torquato Neto compôs com grandes nomes da música brasileira, como: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Carlos Pinto, Jards Macalé, Geraldo Vandré, Roberto Menescal, Luiz Melodia, Machado Jr., João Bosco, Geraldo Brito, Feliciano Bezerra, Renato Piau e Edvaldo Nascimento. Muitos artistas, até hoje, musicam seus poemas.
Citando alguns dos muitos intérpretes torquatianos: Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Elizeth Cardoso, Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Edu Lobo, Jair Rodrigues, Lena Rios (Barradinha), Jards Macalé, Ana Miranda, Nana Caymmi, Cláudia Simone, Laurenice França, Olívia Hime, Rubens Lima, Machado Jr., Fátima Lima, Silizinho, Geraldo Brito, Feliciano Bezerra, Roraima, Edvaldo Nascimento e os Titãs.
Terceiro voo
O terceiro voo, sob a influência do parceiro Edu Lobo, foi para São Paulo, o que ocorreu em 1966. Nessa época, Gilberto Gil morava em Sampa, no bairro de Cidade Vargas, extremo sul da cidade, tendo o hábito e, acredito eu, o prazer de hospedar os amigos, a exemplo de Torquato Neto, Capinam, Geraldo Vandré e Rui Guerra. O certo é que a casa de Gil foi batizada de “Pensão dos Baianos”.
Um ano depois, em 1967, Torquato Neto decide casar-se com a baiana Ana Maria dos Santos e Silva. Três anos depois nascia seu único filho Thiago, atualmente piloto da aviação civil.
Ronaldo Bôscoli relata a cerimônia:
“Torquato casou numa igreja linda e antiga. Lembro-me que cheguei cedo demais. O casamento foi tão careta que a noiva – como manda o figurino – chegou mesmo. (...) Por pouco o casamento não vira uma grande festa tropicalista. (...) O padre estava nervoso: ia celebrar o casamento de Torquato Neto, o mais ativo letrista do chamado grupo baiano, e tinha medo de que, na Hora H, começassem a aparecer violões no altar” (...).
O quarto voo
O quarto voo de Torquato Neto aconteceu um ano após seu casamento (1968), e até 1969 percorreu a Europa e os Estados Unidos por conta de uma bolsa de estudos com que fora contemplado, para escrever sobre “As influências africanas na música popular brasileira”.
O casal, acompanhado pelo artista e amigo Hélio Oiticica, embarcou uma semana antes do famigerado Ato Institucional nº 5.
No retorno ao Brasil, a relação com os baianos fica, digamos, estremecida, e ele vem a Teresina objetivando “recrutar” alguns artistas/amigos da terra visando à formação de um grupo de trabalho no Rio de Janeiro. Não logrou muito progresso na empreitada e, no retorno ao Rio, alia-se a Waly Salomão, Vinícius Cantuária e Luís Moreno e elege como nova intérprete a cantora piauiense Lena Rios, a Barradinha.
Torquato, porém, não consegue esquecer os baianos, e sua paixão pelo cinema sempre estava a aflorar.
O cinema exerce um fascínio terrível sobre o poeta: "As letras dele são, na realidade, roteiros cinematográficos", afirma o jornalista, escritor e filólogo Paulo José Cunha, primo de Torquato.
Foram vários os filmes, em Teresina, no Rio e em Salvador, entre 1961
(roteiro de "Barravento") e junho de 1972 ("O faroesteiro da
cidade verde ou só matando").
Torquato integrou equipes de shows musicais marcantes acontecidos no país. Com Capinanm e Caetano, roteirizou "Pois é", de Maria Bethânia, em 1966.
De janeiro a maio de 1967, participou de "Ensaio Geral", na TV Excelsior (o time: Radamés Gnattali, Tamba Trio, Gil, Caetano, Sérgio Ricardo, Tuca, Sidney Miller, Época de Ouro, Jacob do Bandolim, Ismael Silva, Cyro Monteiro).
Em julho de 1967, roteirizou, para a TV Record, ao lado de Caetano, o "Frente Única - Noite da Música Popular Brasileira”.
Torquato Neto ao longo da sua breve vida foi um ser da práxis (no sentido marxista), daí seu engajamento e luta nas questões de cunho social.
O último voo
O destino do último voo do nosso poeta – Torquato Neto -, infelizmente, não foi Teresina, Salvador, São Paulo, Europa, Estados Unidos ou outro lugar qualquer no planeta Terra. Esse voo foi o mais profundo, e totalmente solitário..., um mergulho infinito nas entranhas de seu “ser”, deixando órfãos o núcleo familiar e artístico (incluindo os fãs).
Torquato Neto, em sua curta viagem pelo planeta Terra, atuou, praticamente, em todas as frentes da cultura brasileira com coragem, inventividade, ousadia e sensibilidade. Seu legado está fincado no coração do povo brasileiro e, em especial, do povo piauiense.
Torquato integrou equipes de shows musicais marcantes acontecidos no país. Com Capinanm e Caetano, roteirizou "Pois é", de Maria Bethânia, em 1966.
De janeiro a maio de 1967, participou de "Ensaio Geral", na TV Excelsior (o time: Radamés Gnattali, Tamba Trio, Gil, Caetano, Sérgio Ricardo, Tuca, Sidney Miller, Época de Ouro, Jacob do Bandolim, Ismael Silva, Cyro Monteiro).
Em julho de 1967, roteirizou, para a TV Record, ao lado de Caetano, o "Frente Única - Noite da Música Popular Brasileira”.
Torquato Neto ao longo da sua breve vida foi um ser da práxis (no sentido marxista), daí seu engajamento e luta nas questões de cunho social.
O último voo
O destino do último voo do nosso poeta – Torquato Neto -, infelizmente, não foi Teresina, Salvador, São Paulo, Europa, Estados Unidos ou outro lugar qualquer no planeta Terra. Esse voo foi o mais profundo, e totalmente solitário..., um mergulho infinito nas entranhas de seu “ser”, deixando órfãos o núcleo familiar e artístico (incluindo os fãs).
Torquato Neto, em sua curta viagem pelo planeta Terra, atuou, praticamente, em todas as frentes da cultura brasileira com coragem, inventividade, ousadia e sensibilidade. Seu legado está fincado no coração do povo brasileiro e, em especial, do povo piauiense.
*Laura Macedo é professora e blogueira
Fonte: blog do Nassif
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