Luis
Fernando Veríssimo, O Globo
Foto: Dom Severino (Parada Gay de Teresina) |
O discurso de reposse do Barack Obama
foi uma litania previsível de boas intenções, como todos os discursos de posse,
mas teve algumas novidades. Nunca antes na história a palavra “gay” — ainda
mais as palavras “nossos irmãos e irmãs gays” — tinha aparecido num discurso
inaugural.
Barack, que minutos antes fizera seu
juramento com a mão esquerda em cima de duas bíblias (outra novidade), uma que
pertencera ao Lincoln e a outra ao reverendo Martin Luther King, para não haver
dúvida sobre o contexto maior da solenidade, incluiu o movimento “gay” entre as
minorias (negros, latinos, imigrantes) e uma maioria (mulheres) ainda
discriminadas.
E pela primeira vez na história a
questão ambiental, ignorada por presidentes anteriores e pelo próprio Baraca
até agora, mereceu mais do que duas ou três frases no discurso.
Mas a maior novidade de todas, e a mais politicamente
relevante, foi a evidente mudança no tom do presidente em relação ao seu
discurso de posse anterior e ao seu comportamento, moderado e conciliador, no primeiro
mandato.
O seu centrismo assumido decepcionou
muita gente, apesar de ser uma óbvia manobra para governar com uma oposição
republicana majoritária no Congresso e em muitos casos vitriólica.
Mesmo
com sua retórica convencional, o novo Obama, com as outras novidades do seu
discurso e com seu novo tom, deu o recado: agora vai ser diferente. Agora vocês
verão o Obama que todos esperavam há quatro anos. “Agora sim” poderia ser o
título do discurso.
Os republicanos continuam com maioria
na câmara dos deputados e muitos dos novos eleitos são da linha do Tea Party,
ultrarreacionários dispostos a serem ainda mais chatos.
O presidente pode não cumprir a
promessa do novo tom e decepcionar outra vez, mas agora não precisa se
preocupar com a reeleição e conta com a reação dentro do próprio Partido
Republicano à sua ala maluca, depois do fracasso do seu candidato no pleito
presidencial.
Armários vazios
Entre
as bandas que participaram do desfile em frente à Casa Branca estava a Lesbian
and Gay Band Association, que escolheu um repertório de compositores
homossexuais, entre eles Leonard Bernstein e Aaron Copland. Os armários estão
todos sendo esvaziados, mesmo retroativamente. O que é formidável. Fonte: blog do Noblat
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