O Brasil não brilha
mais no céu das finanças globais. Por que nossa imagem no exterior se
deteriorou tanto – e como isso afeta nossa economia e nosso futuro
por JOSÉ FUCS
por JOSÉ FUCS
Três anos atrás, enquanto o mundo ainda estava nas trevas da crise de 2008,
o Brasil brilhava como um Sol ao meio-dia. O país crescia em ritmo acelerado,
ajudado pelas medidas de estímulo do governo, e acabara de ser escolhido como
palco da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. O brilho iluminava nossas
vantagens competitivas – um ambiente institucional mais sólido que noutros
países emergentes, um mercado interno gigantesco, uma agroindústria pujante e
imensas riquezas minerais e energéticas. As publicações internacionais davam de
ombros para os gargalos históricos da economia brasileira e
reverenciavam o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. A austera
revista britânica The Economist chegou a publicar uma
reportagem de capa exaltando a força e o dinamismo do país. Sob o título “O
Brasil decola”, a reportagem era ilustrada pela figura do Cristo Redentor
disparando como um foguete em direção ao espaço sideral. O eterno país do
futuro, outrora marcado por calotes nos credores externos, uma inflação
estratosférica e um crescimento pífio, parecia ter se tornado enfim o país do
presente, pronto para realizar seu potencial.
Parecia
A lua de mel durou pouco. No fim do ano passado, a percepção do
Brasil no exterior, que se deteriorava gradualmente desde o final do governo
Lula, piorou muito. Nos últimos meses, as críticas se multiplicaram e se
tornaram ainda mais fortes. Como num eclipse que oculta os raios do Sol, o
brilho do Brasil perdeu intensidade na arena global. “A ideia do Brasil
decolando passou”, disse a ÉPOCA o megainvestidor Mark Mobius, presidente da
Templeton Emerging Markets, empresa que administra um patrimônio de US$ 54
bilhões em mercados emergentes, US$ 4,3 bilhões no Brasil. “A percepção do
Brasil pelos investidores estrangeiros está no pior momento desde 2002”, afirma
o cientista político Christopher Garman, diretor da área de estratégia para
mercados emergentes do Eurasia Group, uma consultoria americana especializada
na análise de riscos políticos. “Exceto em circunstâncias excepcionais, o mundo
não se deixa enganar por muito tempo”, diz Rubens Ricupero, ex-ministro da
Fazenda e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (Unctad). A mesma Economist, que louvara o
Brasil três anos antes, defendeu recentemente em editorial a saída do ministro
da Fazenda, Guido Mantega, considerado inepto para garantir o crescimento de
que o país carece. “Aquela capa do Cristo Redentor falava que o Brasil estava
decolando e não que tinha chegado à Lua”, afirma a correspondente da Economist no
Brasil, Helen Joyce. “Aquele momento especial chegou ao fim.”
A mudança radical na imagem do Brasil lá fora tem a ver, em boa medida, com o
desempenho sofrível da economia brasileira. Depois de crescer 7,5% em 2010, no
último ano do governo Lula, o país desacelerou. Para desconforto da presidente
Dilma Rousseff e de sua equipe econômica, confirmaram-se as previsões mais
pessimistas dos economistas. Em 2011, o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) não passou de 2,5%, um resultado apenas razoável para um país emergente
do porte do Brasil. Em 2012, de acordo com as projeções oficiais, ele
desacelerou ainda mais, para 1,35%. É um patamar bem inferior à média mundial no
período, de 3,3%, e das estimativas hiperotimistas, de até 5%, feitas por
Mantega no início do ano passado. “Lula manteve sem necessidade os estímulos
econômicos criados no combate à crise para gerar um clima de euforia e eleger
Dilma presidente”, afirma Ricupero. “Mas ele sabia que o dia do juízo chegaria
depois.” Fonte: revista Época

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