por Monserrat Martins
Somos um país rico em patrimônio natural, livre e pluralista, mas com
graves indicadores de violência, desigualdade e pobreza. Estamos entre as 7
maiores economias do mundo, mas não conseguimos dar educação de qualidade e
garantir bom atendimento de saúde para todos. Somos um país soberano e
independente, mas com pouca capacidade de interferir nos fóruns e mercados
globais. Não valorizamos nossas riquezas, a começar pela diversidade
étnico-cultural de nosso povo e o domínio sobre parte considerável da
biodiversidade e da água doce do planeta, num território de extensão
continental com uma rica variedade de biomas cujo papel é fundamental no equilíbrio
climático e no desenvolvimento científico, tecnológico e econômico mundial.
Nas últimas décadas iniciamos trajetória de construção da democracia e
de redução das desigualdades sociais, mas persiste a concepção de crescimento
com a exploração predatória dos recursos naturais (como se infinitos fossem),
com baixa agregação de valor e uso intensivo de agrotóxicos. Na contramão do
conceito de sustentabilidade, usado mais como marketing do que colocado em
prática, também se inclui a crise de sustentabilidade política, com o
descrédito dos parlamentares e do sistema de representação, porque afastam a
maior parcela da sociedade das decisões, levando-a ao alheamento político.
Permanecem hegemônicas as velhas práticas políticas que vêm do colonialismo,
sob forma de clientelismo,
fisiologismo, populismo e outras formas de dominação e corrupção que
ainda configuram uma cultura arraigada e difícil de mudar. O processo de
construção da nossa república ainda está incompleto.
A pretexto de gerar condições de governabilidade, as coalizões
enredaram-se numa lógica que prega o
pragmatismo e alimenta o fisiologismo partidário para a formação de base de
apoio parlamentar. A maioria dos programas são feitos sob medida para
os períodos eleitorais, seguindo métodos sofisticados de marketing político. O
Estado a serviço dos partidos, ao invés de servir à sociedade, interage com o
poder econômico, numa cultura viciosa de uso privado dos bens públicos que leva
a insuportáveis distorções na aplicação dos recursos financeiros, tecnológicos,
naturais e humanos do Brasil. O interesse público fica refém do poder
econômico, do calendário político e das conveniências e acordos de bastidores.
Chegamos a um ponto perigoso de relativização ética e de aceitação, como se
fossem “naturais”, de práticas lesivas à sociedade.
Em oposição ao ‘status quo’, as redes, como forma de
agregação e organização, são uma invenção do presente que possibilita um grau
de participação ativa da cidadania, até então inédita e sem precedentes em
qualquer outra Era da História. O auxílio das novas tecnologias de informação e
comunicação pode agora ser usado em favor de ideias e da aglutinação de uma
força política transformadora, criativa, empreendedora e radicalmente
democrática.
É em rede com a sociedade que surge a esperança de construção de um novo
modelo de desenvolvimento: sustentável, inclusivo, igualitário e diverso. No
mundo afora e no Brasil, se constata a eclosão de movimentos de protesto, um
número cada vez maior de pessoas vai à luta, de múltiplas maneiras, para
aumentar sua participação direta nas decisões sociais e no controle da esfera
pública, numa ação política cidadã para sintonizá-la com as demandas e desafios
das crises globais que clamam por respostas urgentes. São questões urgentes as
mudanças nos modelos econômico, político, na qualidade da educação e da saúde,
na segurança cidadã e numa cultura de respeito aos direitos humanos, contra as
discriminações, além de uma reforma urbana, do sistema de transportes e de
produção energética. Esse “diagnóstico do país” que compartilho aqui não é de
autoria individual, minha, mas coletiva: faz parte de um texto em discussão na
Rede Sustentabilidade (lançada no último dia 16 em Brasília), para dizer a que
veio. Fonte: Sul21
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