O último pedido de Rubem Alves: “Depositem
minhas cinzas sob um pé de Ipê.”
Amo os ipês. Plantei um ipê na rua, em frente do
meu escritório. Já está com quase 2 metros de altura e já mostrou umas poucas
flores amarelas. Mas, como toda árvore, como todo ser vivo, ele quer espaço. Os
seus galhos crescem para os lados, para a rua, para a calçada. Mas a calçada é
larga. É só desviar deles e desejar-lhes um bom dia. Pois, dias atrás, quatro
dos seus galhos que se estendiam pela calçada amanheceram quebrados. Foi como
se meus próprios braços tivessem sido quebrados. Fiquei pensando na alma da
pessoa que fez aquilo. Que estranho prazer esse de quebrar os galhos de uma árvore
mansa! São sentimentos de torturador. Alguém que tem prazer em quebrar galhos
de uma árvore, sem necessidade, terá prazer
também em fazer sofrer um animal ou uma pessoa.
Ao sentimento inicial de raiva seguiu-se um outro
de profunda piedade: que deserto horrível e seco deve ser a sua alma. Sua alma
tem medo dos ipês porque nela só há desertos. Horrorizamo-nos com os
criminosos. Milhares há que gostariam de juntar-se a eles. Se não o fazem é por
falta de coragem. Contentam-se em quebrar galhos de ipês... (Crônica de Rubem Alves extraída do livro Quarto de badulaques)
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