É velha
a discussão sobre desenvolvimento econômico e desenvolvimento social. Aqui e
acolá ela emerge das salas fechadas para a grande mídia. Nenhum mágico é capaz
de unificar pontos de vista de tão grande carga ideológica. Afinal, não é saber
quem veio primeiro, mas o que deve ser comido primeiro: o ovo ou a galinha.
Outra pergunta que está implícita nesse debate é sobre se seriam antagônicos e
excludentes os elementos dessa dualidade, se não é possível os dois caminharem
juntos. No fundo da divergência está a questão de prioridade, se há uma lei de
precedência que, violada, pode comprometer o essencial. É a tal teoria da
repartição do bolo.
A
palavra desenvolvimento entrou com toda a força no cotidiano da retórica
política na década de 50, como uma corrente de pensamento que o considerava um
objetivo social. Basicamente, o desenvolvimento está vinculado à intervenção do
Estado na economia. Juscelino concentrou sua visão de desenvolvimentismo num
programa de metas. Geisel, na substituição de importações e na implantação de
uma grande indústria de base. Depois, dentro dessa visão, a teoria do
desenvolvimento ficou anacrônica, na contramão do neoliberalismo, do mercado, o
deus da modernidade.
Coube
ao grupo da Bossa Nova da UDN, em 1958, romper com a pregação clássica do
partido e aderir à teoria do desenvolvimento, condicionando-o à “justiça
social”. Foi esta bandeira, aliada ao combate à corrupção e ao carisma pessoal,
que deu a vitória a Jânio Quadros, em 1960. Juscelino, o profeta do
desenvolvimentismo, era derrotado pela ausência de uma política social,
concentrado que estava no econômico e prisioneiro de lideranças demagógicas e
populistas que quase levaram o Brasil à guerra civil e se transformaram em
motivação para os 20 anos de governo autoritário.
Hoje,
basicamente, dentro de um cenário diferente, as mesmas questões se renovam. O
alto índice de desemprego, os baixos indicadores sociais, o nível dos salários,
a estagnação econômica levam a questionar o modelo proposto pelo FMI.
A
questão central era bem mais complexa. O objetivo do neoliberalismo, destruir o
Estado de bem-estar, responsabilizado por ser o responsável pela distorção das
leis de mercado. Alegavam que os custos sociais prejudicavam a economia. A
grande contradição é justamente o fato de que o Estado de bem-estar, o
“wellfare state”, foi uma grande criação e conquista do capitalismo, que com
ele enfrentou o comunismo, mostrando que era capaz de promover melhores
condições de vida aos mais pobres do que aquele.
O desmonte
do Estado social de Direito é uma das tragédias do nosso tempo. As sociedades
se movem com grande lentidão. O messianismo não engana mais ninguém. Não há
mais o milagre dos salvadores e o apelo à revolução.
Mas há
o sentimento inato no destino da humanidade, barro dos visionários, santos,
heróis, pensadores e estadistas: a de que o mundo jamais poderá prescindir da
justiça. E o mundo não poderá jamais construir seu futuro na injustiça de que
os pobres atrapalham o desempenho dos ricos.
Essa é
uma questão tão velha quanto a Sé de Braga, como dizem os portugueses ou os que
querem baixar o preço dos remédios.
José Sarney
José Sarney
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