Em nota divulgada no dia
de ontem (11/09), o presidente nacional do PSB, o cientista político Roberto
Amaral em carta aberta, afirma que o seu partido traiu a luta de Eduardo Campos e
do seu avo, o lendário político cearense Miguel Arraes, que vivos não se aliariam
ao PSDB que defende e pratica o neoliberalismo. O neoliberalismo que se
caracteriza por apoio a uma maior liberalização econômica, privatização das empresas estatais, livre
comércio e mercados abertos, a desregulamentação das leis trabalhistas, e
reduções nos gastos dos governos
com políticas sociais - a fim de reforçar o papel do setor privado na economia.
Tudo o que o verdadeiro socialismo nega.
Leia abaixo a íntegra da carta aberta:
"Mensagem aos militantes
do PSB e ao povo brasileiro
A luta interna no PSB, latente há algum tempo e agora aberta, tem
como cerne a definição do país que queremos e, por consequência, do Partido que
queremos. A querela em torno da nova Executiva e o método patriarcal de
escolha de seu próximo presidente são pretextos para sombrear as questões
essenciais. Tampouco estão em jogo nossas críticas, seja ao governo Dilma, seja
ao PT, seja à atrasada dicotomia PT-PSDB – denunciada, na campanha, por Eduardo
e Marina como do puro e exclusivo interesse das forças que de fato dominam o
país e decidem o poder.
Ao aliar-se acriticamente à candidatura Aécio Neves, o bloco
que hoje controla o partido, porém, renega compromissos
programáticos e estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil,
joga no lixo o legado de seus fundadores – entre os quais me incluo – e
menospreza o árduo esforço de construção de uma resistência de esquerda,
socialista e democrática.
Esse caminhar tortuoso contradiz a oposição que o Partido
sustentou ao longo do período de políticas neoliberais e desconhece sua
própria contribuição nos últimos anos, quando, sob os governos Lula dirigiu de
forma renovadora a política de ciência e tecnologia do Brasil e, na
administração Dilma Rousseff, ocupou o Ministério da Integração Nacional.
Ao aliar-se à candidatura Aécio Neves, o PSB traiu a luta de
Eduardo Campos, encampada após sua morte por Marina Silva, no sentido de
enriquecer o debate programático pondo em xeque a nociva e artificial
polarização entre PT e PSDB. A sociedade brasileira, ampla e multifacetada, não
cabe nestas duas agremiações. Por isso mesmo e, coerentemente, votei, na
companhia honrosa de Luiza Erundina, Lídice da Mata, Antonio Carlos Valadares,
Glauber Braga, Joilson Cardoso, Kátia Born e Bruno da Mata, a favor da
liberação dos militantes.
Como honrar o legado do PSB optando pelo polo mais atrasado?
Em momento crucial para o futuro do país, o debate interno do PSB restringiu-se
à disputa rastaquera dos que buscam sinecuras e recompensas nos desvãos do
Estado. Nas ante-salas de nossa sede em Brasília já se escolhem os
ministros que o PSB ocuparia num eventual governo tucano. A tragédia do PT
e de outros partidos a caminho da descaracterização ideológica não serviu de
lição: nenhuma agremiação política pode prescindir da primazia do debate
programático sério e aprofundado. Quem não aprende com a História condena-se a
errar seguidamente.
Estamos em face de uma das fontes da crise brasileira: a visão
pobre, míope, curta, dos processos históricos, visão na qual o acessório toma a
vez do principal, o episódico substitui o estrutural, as miragens tomam o lugar
da realidade. Diante da floresta, o medíocre contempla uma ou outra árvore.
Perde a noção do rumo histórico.
Ao menosprezar seu próprio trajeto, ao ignorar as lições de seus
fundadores – entre eles João Mangabeira, Antônio Houaiss, Jamil Haddad e Miguel
Arraes –, o PSB renunciou à posição que lhe cabia na construção do socialismo
do século XXI, o socialismo democrático, optando pela covarde rendição ao statu
quo. Renunciou à luta pelas reformas que podem conduzir a sociedade a um
patamar condizente com suas legítimas aspirações.
Qual o papel de um partido socialista no Brasil de hoje? Não
será o de promover a conciliação com o capital em detrimento do trabalho;
não será o de aceitar a pobreza e a exploração do homem pelo homem como
fenômeno natural e irrecorrível; não será o de desaparelhar o Estado em favor
do grande capital, nem renunciar à soberania e subordinar-se ao capital
financeiro que construiu a crise de 2008 e construirá tantas outras quantas
sejam necessárias à expansão do seu domínio, movendo mesmo guerras odientas
para atender aos insaciáveis interesses
monopolísticos.
O papel de um partido socialista no Brasil de hoje é o de impulsionar
a redistribuição da riqueza, alargando as políticas sociais e promovendo a
reforma agrária em larga escala; é o de proteger o patrimônio natural e
cultural; é o de combater todas as formas de atentado à dignidade humana; é o
de extinguir as desigualdades espaciais do desenvolvimento; é o de alargar as
chances para uma juventude prenhe de aspirações; é o de garantir a segurança do
cidadão, em particular aquele em situação de risco; é o de assegurar, através
de tecnologias avançadas, a defesa militar contra a ganância estrangeira; é o
de promover a aproximação com nossos vizinhos latino-americanos e africanos; é
o de prover as possibilidades de escolher soberanamente suas parcerias
internacionais. É o de aprofundar a democracia.
Como presidente do PSB, procurei manter-me equidistante das
disputas, embora minha opção fosse publicamente conhecida. Assumi a Presidência
do Partido no grave momento que se sucedeu à tragédia que nos levou Eduardo
Campos; conduzi o Partido durante a honrada campanha de Marina Silva. Anunciados
os números do primeiro turno, ouvi, como magistrado, todas as correntes e
dirigi até o final a reunião da Comissão Executiva que escolheu o suicídio
político-ideológico.
Recebi com bons modos a visita do candidato escolhido pela nova
maioria. Cumprido o papel a que as circunstâncias me constrangeram, sinto-me
livre para lutar pelo Brasil com o qual os brasileiros sonhamos, convencido de
que o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única
alternativa para a esquerda socialista e democrática. Sem declinar das nossas
diferenças, que nos colocaram em campanhas distintas no primeiro turno, o apoio
a Dilma representa mais avanços e menos retrocessos, ou seja, é, nas atuais
circunstâncias, a que mais contribui na direção do resgate de dívidas
históricas com seu próprio povo, como também de sua inserção tão autônoma
quanto possível no cenário global.
Denunciamos a estreiteza do maniqueísmo PT-PSBD, oferecemos nossa
alternativa e fomos derrotados: prevaleceu a dicotomia, e diante dela cumpre
optar. E a opção é clara para quem se mantém fiel aos princípios e à trajetória
do PSB.
O Brasil não pode retroagir.
Convido todos, dentro e fora do PSB, a atuar comigo em defesa da
sociedade brasileira, para integrar esse histórico movimento em defesa de um
país desenvolvido, democrático e soberano.
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2014.
Roberto Amaral"
EmTempO:
Para ser mais coerente
com os princípios programáticos, Roberto Amaral deveria ter anexado a essa sua
carta aberta, a sua carta de renuncia, porque ficou bastante na derrota da suas
teses dentro do seu partido que ele não reúne mais condições para presidir um
partido que não segue o seu presidente, preferindo seguir à família de Eduardo
Campos, hoje comandada por Renata Campos que é quem de fato manda no PSB.
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