terça-feira, 21 de junho de 2016

A poesia segundo Arlete Nogueira Cruz

Litania da velha

O tempo consome o silêncio e mastiga vagaroso a feroz injustiça.
O campo se perde embebido em jenipapos para a manhã sufocada.

Os bois da infância ruminam sua paciência e espreitam essa audácia.

— O tempo dói na ferida aberta da recordação.

A velha cata os pertences no quarto que exibe a sua miséria.

A sacola esconde improvisos da vida e ganhos equivocados.

A rua se reserva precária aos passos vacilantes, entre lembranças.

A pobre mulher sai maltrapilha, sem pressa, carregando brio e saudade.

Arlete Nogueira da Cruz (Machado) nasceu na estação ferroviária de Cantanhede, no interior do Maranhão, em 1936. Licenciada em filosofia pela Universidade Federal do Maranhão, cursou o mestrado em Filosofia Contemporânea na PUC/RJ, defendendo dissertação sobre Walter Benjamin. É professora aposentada da UFMA e exerceu também a docência na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde lecionou Filosofia Contemporânea. Arlete Nogueira foi casada com o poeta Nauro Machado.

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