Sentença
faz muito tempo que eu
venho
nos currais deste
comício,
dando mingau de
farinha
pra mesma dor que me
alinha
ao lamaçal do
hospício.
e quem me cansa as
canelas
é que me rouba a
cadeira,
eu sou quem pula a
traseira
e ainda paga a
passagem,
eu sou um número ímpar
só pra sobrar na
contagem.
por outro lado, em meu
corpo,
há uma parte que
insiste,
feito um caju que
apodrece
mas a castanha
resiste,
eu tenho os olhos na
espreita
e os bolsos cheios de
pedras,
eu sou quem não se
conforma
com a sentença ou
desfeita,
eu sou quem bagunça a
norma,
eu sou quem morre e
não deita.
"Salgado Maranhão é um dos mais
brilhantes poetas de sua geração e possui um trabalho de linguagem muito
pessoal. "Sinergia" é a palavra que define sua poesia. Uma poesia de
palavra, muito embora não ignore o real, pois o traduz em fonemas e
aliterações. Que não hesita em ir além da lógica do discurso (ou do enlace com
o plausível) se o resultado é o impacto vocabular e o inusitado da
fala."
FERREIRA GULLAR
FERREIRA GULLAR
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