Estimados
Diocesanos! A Quaresma é tempo oportuno para cada cristão refletir sobre sua
vida de comunhão com Deus, os irmãos e a criação, à luz da Palavra de Deus.
Podemos ser tentados a viver uma espiritualidade ou pseudo-espiritualidade, desencarnada
da realidade da vida e do mundo que está ao nosso redor; uma espiritualidade da
indiferença, marcada pelo egoísmo, sem uma comunhão de vida com os irmãos e
toda a obra do Criador. Ela pode ser praticada para aliviar a nossa
consciência, por termos realizado um rito, mas não é geradora de comunhão, nem
expressa o amor, a compaixão, a ternura e a misericórdia do Pai.
A
Igreja católica no Brasil vem abordando, por mais de cinqüenta anos, através da
Campanha da Fraternidade, temas relevantes da nossa realidade brasileira. Não
são temas escolhidos aleatoriamente, mas que refletem a dura realidade em que
vive o nosso povo, em condições muitas vezes sub-humanas, nos seis biomas que
cobrem o nosso território nacional.
Vida
e natureza caminham juntas. É possível “cultivar e guardar a criação”, em
defesa da vida, que está ao nosso redor, nos nossos ricos e diversificados
biomas, percorrendo um caminho de conversão entendido à luz da Palavra de Deus.
A conversão precisa chegar até o nosso coração, tocar e mudar a nossa vida, as
nossas ações em defesa da vida e da criação, na qual muitas vezes vemos sinais
de morte, que ameaçam a vida presente nas diversas regiões do nosso País.
O
progresso que traz bem estar é algo desejado e esperado por todas as realidades.
Mas o progresso do bem estar econômico, que pouco se importa com a dignidade de
vida das pessoas e do cuidado do meio ambiente, mais do que esperança de vida,
reflete sinais de morte para todos. O Papa Bento XVI, na homilia do início do
seu ministério petrino, disse que: “os desertos exteriores se multiplicam no
mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos”. A defesa da vida,
da ecologia do mundo em que vivemos foi retomada pelo Papa Francisco. Na
encíclica Laudato Si, ele salienta que “a crise ecológica é um apelo a uma
profunda conversão interior. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é
algo opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte
essencial de uma existência virtuosa”.
Por
Dom José Gislon – Bispo de Erexim
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