sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A poesia Segundo Luís Augusto Cassas



Leilão de Poeta

Quem dá um dólar furado
por um poeta bastardo
sem quatro costados?

Quem ou ninguém se habilita
a adotar um salafrário
do amor estelionatário?

Quem doa perdoa e arremata
esse fino exemplar da raça
aristocrata vira-lata?

Qual tempo e avaliação
desse bardo a bordo:
vagabundo a estibordo?

Quantos reais ou ideais
valem as prendas estéticas
das veleidades domésticas?

Quem comprará a camisa
suja de batom e de brisa
desse príncipe de uma figa?

Vale o que diz cheira e pesa?
Vale o poema que reprisa?
Qual o preço sem barriga?

Quem dará o preço mínimo
pela carcaça do farsante
que de lábia é o mais fino?

Quem fincará uma estaca
no coração desse poeta
que de fúrias o amor exalta

e mesmo em extrema-unção
torpedeia a imaginação
de uma distante mulata?

Quem doa amor de ouro ou prata
àquele que à dor o coração ata
e de amor morre mas não mata?

“A poesia social, bastante presente na obra de Luís Augusto Cassas, indica outros possíveis parentescos. Se podemos eventualmente aproximá-lo da dicção de Affonso Romano de Sant’Anna, de Moacyr Félix ou de Thiago de Mello, ele pode ser melhor identificado ao lado de Affonso Ávila e de José Paulo Paes que, embora contidos, fazem da poesia social um exercício de fina ironia. Mas Cassas transita entre essas duas linhagens sem contudo se filiar a nenhuma. Sua posição é de admirável independência”. (André Seffrin)

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