Um corpo de mulher
Este corpo de mulher
cálido
me atrai com seu mistério
trágico
A curva da costa
se funde
na curva da sombra
Este corpo de mulher não aterrado
Infenso ao trágico
As longas coxas morenas
confundidas com a sombra
descerram a guarda mais negra que vela no
fundo
que vela um abismo
entre disfarçados pelos sobre o abismo
atrás do qual lateja o sangue estrelado
do universo
Hoje amanhã
Todo hoje tem amanhã, como o eu o objeto,
Tudo o que é será o seu futuro
A pedra o sangue o Iodo o lírio o afeto
flor humana que nasce de monturo
As estrelas brilhando em céu dileto
refervilhavam em caos prematuro
o irradiante clarão provém direto
da dor da fricção do ventre escuro
Sendo eu o que serei serei já sendo
inelutavelmente condenado
a meu próprio amanhã e ao de tudo
então se cumpra logo o ciclo horrendo
sendo eu o meu porvir mas apagado
no vivo mar desafogado mudo
Manoel Caetano Bandeira de Mello foi um poeta, ensaísta,
advogado, nascido em Caxias, Maranhão, em 1918. Foi membro da Academia Maranhense
de Letras (AML)
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