quinta-feira, 27 de junho de 2019

A poesia segundo Manoel Caetano Bandeira de Mello


Um corpo de mulher

Este corpo de mulher
cálido
me atrai com seu mistério
trágico

A curva da costa
se funde
na curva da sombra

Este corpo de mulher não aterrado
Infenso ao trágico

As longas coxas morenas
confundidas com a sombra
descerram a guarda mais negra que vela no fundo
que vela um abismo
entre disfarçados pelos sobre o abismo
atrás do qual lateja o sangue estrelado
do universo

Hoje amanhã

Todo hoje tem amanhã, como o eu o objeto,
Tudo o que é será o seu futuro
A pedra o sangue o Iodo o lírio o afeto
flor humana que nasce de monturo

As estrelas brilhando em céu dileto
refervilhavam em caos prematuro
o irradiante clarão provém direto
da dor da fricção do ventre escuro

Sendo eu o que serei serei  já sendo
inelutavelmente condenado
a meu próprio amanhã e ao de tudo

então se cumpra logo o ciclo horrendo
sendo eu o meu porvir mas apagado
no vivo mar desafogado    mudo

Manoel Caetano Bandeira de Mello foi um poeta, ensaísta, advogado, nascido em Caxias, Maranhão, em 1918. Foi membro da Academia Maranhense de Letras (AML)

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